Figueiró dos Vinhos e o fenómeno irresistível do encantamento

Uma terra que ainda tem uma nostalgia primordial, um pulsar de novas raízes que querem germinar. É a opinião do leitor Luis Robalo, em passeio por Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria.

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Por terras de Figueiró dos Vinhos LUÍS ROBALO
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Figueiró dos Vinhos LUÍS ROBALO
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Por terras de Figueiró dos Vinhos LUÍS ROBALO

Fui para Figueiró dos Vinhos.

As pessoas são de uma simpatia simples, pouco comum, para quem está habituado à solidão das multidões frenéticas das cidades pálidas.

Figueiró dos Vinhos, vila no centro interior deste pequeno país, distrito de Leiria, no alto de uma serrania suave, rodeada de árvores, de riachos e pequenos rios que desenham os vales profundos, esculpindo praias fluviais onde se pode merendar ouvindo o som fresco da água que corre.

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Figueiró dos Vinhos LUIS ROBALO

José Malhoa, o pintor do povo (que pintou o famoso quadro da fadista esparramada sobre uma mesa de tasca, acompanhada por um guitarrista com o chapéu desleixado e um cigarro no canto da boca ébria), tomou-se de amores pela luz cristalina e prístina da serra e construiu uma casa em Figueiró, saída de um conto de fadas e faunos, um local mágico e muito romântico.

“O Casulo”. E o que começou por ser uma fuga para o campo, para recuperar das estridências da vida cosmopolita, transformou-se numa meia vida de trinta anos, onde o naturalista pintou grande parte da sua obra, inspirado pelas vistas amplas das serras, pontículos dentados numa mancha de muitos verdes, sob a sombra de um céu límpido, de uma cor azul que não sabemos nomear, mas que Malhoa saberia.

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Casulo, Figueiró dos Vinhos Luis Robalo

Malhoa também fundou o "Grupo do Leão". No café onde se encontravam em Lisboa, souberam a notícia do seu encerramento e os artistas do grupo perguntaram ao criado que os servia qual seria o seu futuro. E anunciaram naquele momento e ocasião que para onde ele fosse, iriam eles. Foi para o estabelecimento ao lado, um restaurante, e o grupo decidiu que cada um pintaria um quadro para decorar o novo espaço (António Ramalho, João Vaz, Henrique Pinto, Ribeiro Cristino, Cipriano Martins, José Malhoa, Moura Girão, Rodrigues Vieira e o próprio Columbano. Os criadores do naturalismo português, movimento liderado por Silva Porto). O novo estabelecimento ganhou o nome de “Leão d’Ouro”.

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Figueiró dos Vinhos LUIS ROBALO

Figueiró é uma vila com dimensão humana: o número de pessoas suficientes para uma comunidade harmoniosa, e, porque os bons segredos são sussurrados de boca em boca, cidadãos de outros países estão a estabelecer-se em pequenas aldeias e quintas no concelho, energias novas para recarregar as baterias deste país tristemente envelhecido.

Só pela simpatia das gentes valeria uma visita, mas quando se chega e se olha à volta, dá-se o fenómeno irresistível do encantamento. Uma terra que ainda tem uma nostalgia primordial, um pulsar de novas raízes que querem germinar.

Figueiró tem uma aldeia de Xisto (São Simão) e um pão-de-ló que mede meças com os rivais. Venham e desfrutem.

Luis Robalo (texto e fotos)
Autor do blogue Redondo Vocábulo

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