Rússia acusa Bruxelas de não querer investigar ataque ao Nord Stream
O Kremlin defende investigação internacional sobre o ataque ao gasoduto. O ministro da Defesa alemão não descarta que ataque possa ter sido uma “operação de bandeira falsa” para incriminar a Ucrânia.
A porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, acusou esta quinta-feira Bruxelas de ignorar a necessidade de se investigar as explosões no Nord Stream em Setembro do ano passado, avança a agência Reuters.
A Rússia tem defendido, nos últimos dias, que se devem investigar os alegados ataques contra os gasodutos que ligam a Rússia à Alemanha, pelo mar Báltico. Quando, terça-feira, num artigo do The New York Times, membros da Administração norte-americana levantaram a hipótese de o ataque ter sido levado a cabo por um grupo pró-Ucrânia, o representante da Rússia nas Nações Unidas, Dmitry Polyansiy, reforçou a necessidade uma “investigação internacional sob tutela do secretário-geral da ONU”.
No dia seguinte, Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, perguntou: “Como podem os governantes norte-americanos assumir alguma coisa sem uma investigação?” A embaixada russa nos EUA considerou que a informação dos serviços secretos norte-americanos não seria mais do que “uma tentativa de confundir quem procura, sinceramente, a verdade neste crime flagrante”, avança a Reuters.
A Rússia também se queixou de ser excluída das investigações europeias às explosões. "Não nos permitem participar na investigação. Só há alguns dias recebemos informações sobre isso de dinamarqueses e de suecos", disse Peskov. "Isto não é só estranho. Cheira a um crime monstruoso", lamentou.
No rescaldo da publicação do artigo do jornal norte-americano, o ministro da Defesa alemão, Borius Pistorius, alertou para o perigo de “tirar conclusões precipitadas”. Segundo o site Euroactiv, Pistorius disse, à margem da reunião de ministros da Defesa da União Europeia em Estocolmo, quarta-feira, que não exclui a possibilidade de tudo se tratar de uma operação de “bandeira falsa” orquestrada para culpar a Ucrânia.
Dmitry Peskov voltou a descartar, esta quinta-feira, que a Rússia tenha culpa do ataque.
À procura do barco dos alegados sabotadores
Procuradores alemães confirmaram, quarta-feira, que, entre 18 e 20 de Janeiro, procuraram um barco que pode ter sido utilizado pelos sabotadores para provocar explosões no gasoduto, avança o The Guardian.
De acordo com o jornal alemão Die Zeit, o ataque terá sido levado a cabo por cinco homens e uma mulher. Estes terão usado passaportes falsos para alugar um barco a uma empresa polaca com donos ucranianos. A nacionalidade dos alegados sabotadores é desconhecida.
Caso tenha, efectivamente, sido um grupo pró-Ucrânia a sabotar o gasoduto, o ministro da Defesa alemão considera importante distinguir dois cenários: que tenha acontecido por ordem do Governo ucraniano ou sem conhecimento de Kiev.
Esta quinta-feira, o Kremlin mostrou dúvidas que os ataques pudessem acontecer sem apoio de um Estado. Já na altura da sabotagem, como refere o New York Times, a sofisticação do ataque e da execução levava à especulação de apoio de algum governo na operação.
A 26 de Setembro de 2022, os gasodutos Nord Stream 1 e 2 foram abalados por explosões que provocaram danos em três das quatro ligações de gás.
O Nord Stream 1 e Nord Stream 2 estendem-se por uma distância de mais de 1.200 quilómetros entre a Rússia e a Alemanha. O primeiro ficou concluído em 2011 e custou mais de 11 mil milhões de euros. O Nord Stream 2 completou-se dez anos mais tarde, mas nunca ficou operacional, depois de ser recebido com cepticismo por EUA e Reino Unido, por potencialmente aumentar a dependência da Alemanha em relação ao gás russo.
Em 2022, perante a ameaça da invasão russa à Ucrânia – que se veio a efectivar dois dias depois – Olaf Scholz, anunciou que o Nord Stream 2 seria bloqueado.