Ucrânia chora a morte de Yana, o “anjo das tropas” em Bakhmut

Voluntária de 29 anos morreu quando estava a ajudar soldados feridos na linha da frente. Uma multidão acorreu ao seu funeral, em Vinnitsia, onde foi enterrada com o estatuto de heroína nacional.

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Yana Rykhlitska trabalhava em informática antes de se voluntariar, integrando o corpo médico das Forças Armadas Twitter do Ministério da Defesa da Ucrânia

Os camaradas chamavam-lhe “anjo das tropas”, mas nos últimos dias também ganhou a alcunha de “anjo de Bakhmut”, por ter sido nessa cidade sitiada do Leste da Ucrânia que trabalhou mais recentemente como paramédica para as Forças Armadas.

Yana Rykhlitska​, a quem chamavam igualmente “Yara”, morreu na sexta-feira enquanto transportava soldados ucranianos feridos para um hospital de campanha. De acordo com o jornal Ukrainska Pravda, a ambulância em que seguia foi atacada pelas forças russas. Tinha 29 anos.

Yana foi elevada à condição de “verdadeira heroína” pelo Ministério da Defesa ucraniano, que a descreveu como alguém “pronto a arriscar a sua vida para ajudar os outros”. A sua morte surge como mais um símbolo da brutalidade do que se passa em Bakhmut.

Funcionária de uma empresa de informática antes da guerra, Rykhlitska voluntariou-se para ajudar na defesa do país logo em Fevereiro de 2022, angariando fundos para a compra de drones, geradores e equipamentos de visão nocturna e prestando ajuda humanitária a civis. Mais tarde alistou-se mesmo nas Forças Armadas e integrou o corpo médico, acabando destacada para Bakhmut.

“É difícil explicar, mas para ela não havia missão impossível, fosse grande ou pequena”, disse um companheiro de Yana, chamado Vova, ao El País. O jornal espanhol acompanhou o funeral da mulher em Vinnitsia, a sua cidade natal na parte ocidental do país que fica a mais de 800 quilómetros de Bakhmut. Umas 300 pessoas acorreram à cerimónia fúnebre.

O marido de Yana, um militar de 36 anos chamado Oleksander, relatou como ambos se tinham conhecido em Kharkiv, no Verão passado, e como decidiram casar-se quase de imediato. A união oficializou-se no último dia do ano, já em Bakhmut. “Foi uma guerreira pela Ucrânia”, diz o agora viúvo ao El País, descrevendo-a como uma mulher de “franqueza, amabilidade, sinceridade, confiança”.

Há cerca de uma semana, Yana tinha surgido numa reportagem da Associated Press sobre a situação na linha da frente. Um antigo colega de empresa reconheceu-a e partilhou a imagem num grupo com outros conhecidos. “Toda a gente estava tão entusiasmada. E depois, no dia seguinte…”, comentou Viktor Fateiev, que descreveu a paramédica como “uma mãe para toda a gente”.

Viktor explicou à AP que Yana passou alguns meses no Brasil a aprender capoeira e que se encontrava lá quando a Rússia invadiu a Ucrânia. Decidiu então voltar para casa.

Na terça-feira, enquanto a urna da única filha descia à terra no cemitério local, a mãe de Yana chorava o seu desespero. “Ai, minha filha, minha pequena Yana!”, lamentava Olena, amparada pelo marido, Mikola.

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