China avisa que atitude dos EUA pode levar ao “confronto” entre as duas potências
Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês exige que Washington pare de interferir na questão de Taiwan e diz que as relações com a Rússia não são uma ameaça para “nenhum país”.
Os Estados Unidos devem mudar a sua atitude “distorcida” em relação à China ou o “conflito e o confronto” serão inevitáveis, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros da China. Na sua primeira conferência de imprensa desde que ocupa o cargo, Qin Gang exigiu ainda que os EUA parem de interferir na questão de Taiwan e disse que Pequim mantém a “opção de agir”, caso a ilha declare independência.
“A percepção e as visões dos Estados Unidos sobre a China estão seriamente distorcidas”, disse Qin, que até recentemente foi embaixador da China em Washington. “Os EUA consideram a China como o seu principal rival e o desafio geopolítico mais consequente. Isso é como colocar erradamente o primeiro botão da camisa”, acrescentou o ministro, falando à margem da sessão anual da Assembleia Popular Nacional, o órgão máximo legislativo da China.
“Se os EUA não pisarem o travão e continuarem a acelerar na direcção errada, nenhuma protecção poderá impedir o descarrilamento e haverá certamente conflito e confronto”, disse Qin, para quem a ideia de que a China não deve responder com palavras e acções quando é caluniada ou atacada “é simplesmente impossível”.
As relações entre Pequim e Washington deterioraram-se nos últimos anos, devido a uma guerra comercial e tecnológica, diferendos em questões de direitos humanos, o estatuto de Hong Kong e Taiwan ou a soberania do mar do Sul da China. No mês passado, o episódio do balão de vigilância chinês abatido na costa Leste norte-americana agravou ainda mais a tensão entre os dois países.
O governante chinês afirmou que os EUA “têm que parar de interferir nos assuntos internos” da China. “Porque é que não respeitam a soberania da China na questão de Taiwan, mas exigem que mostremos respeito pela soberania da Ucrânia?”, questionou. “Porque é que estão a enviar armas para Taiwan e pedem-nos que não enviemos armas para a Rússia?”.
“Se os EUA querem a paz, devem parar de usar Taiwan para conter a China e rejeitar e impedir a independência de Taiwan”, disse Qin, abrindo depois uma uma cópia da Constituição da República Popular da China, citando que a ilha é “território sagrado”.
Durante uma conferência de imprensa de quase duas horas em que respondeu a perguntas enviadas com antecedência, Qin Gang fez uma defesa robusta da “diplomacia do guerreiro lobo”, uma postura assertiva e muitas vezes abrasiva adoptada pelos diplomatas da China desde 2020.
“Quando os chacais e os lobos estão a bloquear o caminho e os lobos famintos nos atacam, os diplomatas chineses devem dançar com os lobos e proteger e defender a nossa casa e o nosso país”, afirmou o ministro dos Negócios chinês, que em Dezembro substituiu Wang Yi, nomeado director da Comissão de Negócios Estrangeiros, na prática o cargo mais elevado da diplomacia de Pequim.
Reiterando o apelo da China ao diálogo para acabar com a guerra na Ucrânia, Qin disse que as relações entre Pequim e Moscovo contribuem antes para “avançar com o multilateralismo” nas relações internacionais.
“As relações entre a China e a Rússia têm como base a confiança mútua estratégica e a boa vizinhança. Há quem veja nesta relação ecos da Guerra Fria, mas ela não constitui uma ameaça para nenhum outro país”, referiu o ministro,
A China fechou uma parceria “sem limites” com a Rússia no ano passado, semanas antes da invasão da Ucrânia, com Pequim a apontar a expansão da NATO como responsável pela guerra, dando eco à retórica utilizada pela Rússia. Pequim recusou até agora condenar a invasão e defendeu ferozmente a sua posição sobre o conflito, apesar das críticas ocidentais por não admitir a Rússia como o agressor.
O ministro negou também que o país esteja a considerar fornecer armas à Rússia e defendeu que Pequim fez uma “avaliação independente”, garantindo que o país está empenhado na paz na Ucrânia.
“O que é que a China fez para ser ameaçada ou pressionada em relação a esta crise?”, questionou Qin Gang, recordando a proposta de 12 pontos, feita no mês passado, para que seja alcançado um “acordo político para a crise ucraniana”.
“Fomos nós que publicámos um documento com propostas para a paz”, lembrou.