Ingleses estão desconfiados de Bruno Fernandes

O jogador português já foi herói em Manchester, mas, agora, os ingleses dizem que esbraceja, reclama, “chora”, faz teatro e não corre. E que isso não é de bom capitão.

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Bruno Fernandes chegou ao Manchester United em Fevereiro de 2020 EPA/Martin Rickett/NMC/Pool

Nos desportos colectivos, um cenário de vitória faz com que todos pareçam bons. Um cenário menos positivo espoleta, desde logo, a busca por culpados. Falemos, então, de Bruno Fernandes.

No Manchester United, o jogador português está na mira dos comentadores. Já foi herói, mas agora, não sendo vilão, está a receber algumas críticas. E desconfiança. Será que é, afinal, digno da braçadeira de capitão? Para alguns, não é. E esta história atesta sobremaneira o que é o desporto e, em especial, o futebol.

Olhemos para o contexto. O Manchester United tem estado numa fase fulgurante, quer a nível de resultados – ganhou há poucos dias o primeiro troféu em seis anos –, quer a nível de desempenho futebolístico – que há muito não era tão agradável em Old Trafford.

Rashford parecia dos melhores do mundo, De Gea já não se prestava a tantos erros, Shaw tirava a vontade de se contratar um novo lateral, Casemiro era visto como um salvador e até Antony e Weghorst eram elogiados como contratações acertadas.

Há dois dias, veio o Liverpool. E veio um golo sofrido. E depois dois. E três. E foram aos sete. Um 7-0 frente ao grande rival é coisa que dói. E tudo parece diferente. Até mesmo o capitão.

Reclama com colegas

Em Fevereiro de 2020, depois de deixar o Sporting, Bruno Fernandes jogou pela primeira vez por um United despedaçado. O português impressionou pela intensidade com que jogava, pela forma como dava indicações aos colegas, pela entrega na disputa da bola, pela vivacidade com que pressionava os árbitros e pela alegria com que celebrava os golos – e marcava bastantes, além de dar outros tantos a marcar.

Em suma: a nível de futebol, personalidade e postura tinha tudo aquilo que os ingleses consideravam importante para ser um bom capitão de equipa. E chegou rapidamente a esse posto.

Agora, em Março de 2023, Fernandes é criticado por boa parte das valências pelas quais já tinha sido elogiado. Uma viagem pela vertente desportiva da imprensa britânica permite perceber que, neste momento, Bruno Fernandes é um tema.

O que está em causa é a forma como o português esbraceja com os colegas que falham passes. Ou quando não lhe passam a bola. Também se fala da maneira como abdica de correr em alguns momentos do jogo, sobretudo quando é o momento de correr atrás dos adversários, ou mesmo quando parece questionar substituições de Ten Hag.

Noutro prisma, Fernandes é ainda criticado pela teatralização de lesões e/ou alegadas infracções sofridas – algo que os ingleses abominam, mesmo com os jogadores das suas equipas. Os vídeos em baixo ilustram aquilo que é criticado no português.

"Nunca mais deveria ser capitão"

"Foi uma confusão, sintetizada no que foi o capitão Bruno Fernandes, que por vezes tem sido embaraçoso. Estou farto de o ver a esbracejar, choramingar e a agarrar-se à cara quando é tocado”, foi a ideia veiculada por Gary Neville, lenda do clube inglês e actual comentador da Sky Sports.

O mordaz Roy Keane também falou do tema à Sky: “A linguagem corporal de Fernandes foi vergonhosa. É um rapaz talentoso e é o capitão, mas a sua linguagem corporal, erguendo os braços e não correndo para trás... vocês não ficariam felizes por tê-lo no vosso balneário”.

Também Chris Sutton, ex-futebolista e agora comentador, defende à BBC uma tese semelhante: “Ele nunca mais deveria ter a braçadeira no braço. O Bruno não é o melhor líder e há jogadores muito mais qualificados para isso, como o Casemiro ou o Varane”.

Bruno Fernandes está numa posição curiosa. Por um lado, é o líder de uma equipa que, apesar do descalabro frente ao Liverpool, até tem vivido bons momentos – e um líder dificilmente não será elogiado nos bons momentos. Por outro, as atitudes em campo fazem com que alguns adeptos ingleses não o vejam como um bom capitão – e isso, sobretudo nos momentos menos bons, pode ser-lhe cobrado. E já foi.

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