“Formentera não é barata.” Ponto assente. “Pode até ser muito cara.” Ponte reassente. Não são, podemos garantir, termos habituais que se oiçam durante a apresentação de um destino turístico, particularmente vindos de vozes oficiais. Mas Formentera não quer, “mesmo!”, um “turismo de massas” ou alicerçado em “low costs”. Pode até ser relativamente acessível, como diz Fernando Valmaseda, director de estratégia e comunicação do turismo da ilha, num evento paralelo à BTL, que decorre por estes dias na FIL do Parque das Nações — mas "só em época baixa".
Em exemplos, aponta que uma semana para dois “poderá chegar a uns 3000 euros ou mais” no Verão; “um terço disso ou menos” noutras alturas, sendo estes, claro, valores indicativos, que a lei do mercado faz o resto. O certo é que cada vez mais portugueses têm “o sonho de Formentera”, a mais pequena das Baleares, sem aeroporto e só acessível de barco (via Ibiza, sendo que para muitos turistas, naturalmente, as duas ilhas fazem sempre parte do programa, é uma viagem de meia hora). Por isso mesmo, pela primeira vez, a ilha apresentou-se oficialmente em Lisboa à imprensa e hasteou bandeira na feira de turismo que decorre até domingo.
No ano passado, foram contabilizados cerca de 25 mil turistas portugueses na ilha, que globalmente recebe em redor de meio milhão de visitantes, segundo o Turismo oficial. Sendo tradicionalmente um destino invadido pelos veraneantes italianos (“a ponto de haver Verões em que parece estarmos em Itália”), é-o cada vez mais pelos espanhóis, mas também por alemães.
Os portugueses partilham, por agora, um quinto lugar em que estão muitas outras nacionalidades, “mas pode facilmente passar a quarto mercado”. É que os valores de 2022 representam um aumento de 17% face aos dados de 2019 (faz-se um intervalo óbvio na pandemia). E mais: “Queremos que esse aumento em 2023 chegue aos 25%”. Os dados estão lançados. Essencial para esta meta: os voos para Ibiza e parcerias com agências de viagens com a oferta Formentera adaptada aos portugueses, para além da promoção geral também para turistas de férias autoprogramadas.
Como armas de sedução para usar em Portugal, Formentera — cuja imagem se faz destas praias paradísicas e areias brancas e águas azul-turquesa, clima temperado, pôr e nasceres do sol de truz, e de uma calma que não é apanágio da massificada vizinha Ibiza —, traz agora cada vez melhor acessibilidade aos portugueses, graças aos voos directos para Ibiza, a segurança e conforto de uma ilha com pouco mais de 80km2 (dois Porto Santo, digamos) e a aposta em parcerias com agências de viagens para adaptação de programas turísticos.
O tesouro de Formentera
A promessa é de uma espécie de anti-Ibiza?, perguntamos, sabendo-se também que muita gente conjuga as duas amigas ilhas (o anti aqui é apenas conceptual, claro, que como se escrevia na Fugas há uns anos Ibiza é uma ilha que é um inferno no Verão, mas que ainda tem lugares no paraíso) conforme a vontade e disponibilidade. “Sim, precisamente uma espécie de ‘anti-Ibiza’”, aceita Fernando, que, além de estar aqui como porta-voz das maravilhas da ilha, já fez muito jornalismo de viagens (tem até um afamado programa de viagens na rádio, Miradas Viajeras) e é um apaixonado declarado por Formentera, sobre a qual constrói uma narrativa de crónica de viajante repleta de poesia e aventura.
Aventura poética exemplificada com mestria neste microconto parabólico: “Durante séculos dizia-se que os piratas escondiam os seus melhores tesouros nas nossas grutas. Muita gente andou à caça do tesouro, aqui e ali. Nada. Quando todos se fartaram de procurar é que descobriram o verdadeiro tesouro: Formentera. A ilha, toda a ilha, é que é o nosso tesouro.”
A ilha e também o turismo, que o Governo local quer que seja "cada vez mais sustentável". A aposta é toda num turismo de natureza, de tradição e cultura, de produtos e produções locais, “sem as massas de outras ilhas demasiado turistificadas”. No Verão, por exemplo, o número de veículos que entram em Formentera é limitado através de controlo prévio dos ferries (também se pode chegar à ilha via barco dos portos de Barcelona ou Dénia, Alicante).
Saliente-se que, em Formentera, com cerca de 14 mil residentes (“muita gente de Ibiza tem cá casa”), a oferta hoteleira também é limitada, inclusive por lei e com tectos em debate, rondando agora as 20 mil camas, repartidas por centena e meia de alojamentos (“legais”): quase todas em “pequenos hotéis boutique, de dez, 20, 30 quartos”, e alojamentos locais, vivendas turísticas, casas de hóspedes — grandes hotéis contam-se pelos dedos, como os cinco estrelas da Riu (o maior, 300 quartos) e da 5 Flowers.
“Costumo dizer que só temos uma estrada que vai de um farol, numa ponta, ao outro farol, na outra ponta, e o resto é uma beleza natural de paraíso”, propagandeia, com gosto, Fernando. Claro que, à volta, não faltam as razões maiores de tantos visitantes, as praias, que não raras vezes surgem nos tops das mais bonitas do mundo (dezenas, difícil é escolher, de Ses Illetes e Llevant a Migjorn e Arenals, as calas...), o recorte rochoso de Formentera pontuado por calas oníricas, “o encanto das suas aldeias”, os percursos pela natureza, uma gastronomia local e “cada vez mais de topo” e, entre as várias mais-valias, até os seus “vinhos singulares” (atenção apreciadores: nesta ilha não entrou a filoxera, coisa rara e uma benesse do isolamento insular usada agora como slogan).
Outro detalhe de Formentera, que “por vezes até chateia alguns turistas”: o factor alga. Mas que ninguém fale mal da Posidonia oceanica, “riqueza de Formentera”, algo de planos de defesa e preservação, estudo e utilização. “Faz parte de nós e sem ela não vivemos.” Verdade seja dita: não é uma alga, mas uma angiospérmica, endémica no Mediterrâneo, uma planta que dá flor (o Azul explica) — logo, há mesmo grande um jardim subaquático por aqui.
A agenda da ilha tem mais animação, com destaque para as actividades e desportos náuticos, nomeadamente o mergulho submarino. Ou, aliás, diz o porta-voz, “basta pôr o tubinho e os óculos e ficar a admirar de olhos abertos estas belezas subaquáticas; são de tirar a respiração”. Passeios de barco, um salto à ilha de Espalmador, percursos pela natureza, a descoberta das salinas, um salto a Ibiza, etc. Mas o maior espectáculo para Fernando é outro. Ou melhor, são dois: "O nascer e o pôr-do-sol. São únicos aqui", enaltece no habitual exagero dos apaixonados, com cada espectáculo destes a ter um lado da ilha ideal para ser admirado, e com razões para isso: “São quadros e cores maravilhosos. Eu até sou mais do pôr-do-sol. É o pôr-do-sol mais bonito do mundo!.” Já sabemos que Formentera é a sua menina dos olhos, mas há ali um brilho no seu olhar que nos faz quase acreditar. Não há melhor propaganda, de facto, do que ficarmos com vontade de ver para crer.
Na BTL, que abre ao público em geral na sexta à tarde e fica até domingo à noite, Formentera mostra os seus encantos e dá informações na área Espanha do pavilhão 4 (Stand 4B18).