Vítor Pereira está em agonia no Brasil

58 dias, três títulos perdidos. O treinador português, que já tinha começado na berlinda a aventura no Flamengo, está num comboio desgovernado. E domingo há mais um título em jogo.

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Vítor Pereira, treinador do Flamengo Reuters/SERGIO MORAES

Primeiro, foi a Supertaça do Brasil. Depois o Mundial de Clubes. Agora, a Supertaça sul-americana. Desde que assumiu o comando do Flamengo, em Janeiro, o treinador português Vítor Pereira já perdeu não um, não dois, mas três títulos.

Na última madrugada, viu fugir a Supertaça sul-americana, com uma derrota frente ao Independiente del Valle, no desempate por pontapés da marca de penálti.

Num clube exigente e abastado como o Flamengo, com talento a condizer, Vítor Pereira está numa posição complicada e, até pelo padrão habitual dos clubes brasileiros, não é improvável que esteja com a “cabeça a prémio”.

O adepto do Flamengo digere mal uma derrota. Tem dificuldade em aceitar duas. E é levado pela ira se forem três – mais ainda se houver três títulos em jogo, como é o caso, e se duas delas forem com adversários teoricamente inferiores, como eram o Al Hilal, no Mundial de Clubes, e o Independiente, agora na Supertaça.

Vítor Pereira argumenta que esta fase da temporada, antes do início do campeonato brasileiro, é uma espécie de pré-época e que disputar títulos neste momento é sempre um risco.

“Assumi a equipa sabendo que nós praticamente já jogámos 12 ou 13 jogos. É uma pré-temporada, é como mudar o pneu do carro em andamento. Sabia que não teria esse tempo. E com muitos títulos a disputar (...) devíamos ter começado com títulos, mas é um trabalho que está no início (...) não é como começa e sim como acaba”. Argumentos suficientes, até considerando que só passaram 58 dias entre o primeiro treino e esta final perdida? Veremos nos próximos dias – especificamente no domingo.

O Flamengo pode conquistar o campeonato carioca caso vença o Vasco. E talvez seja tudo aquilo de que Vítor Pereira precisa.

Odiado em São Paulo, infeliz no Rio de Janeiro

Em 2013, no Benfica, Jorge Jesus perdeu três títulos em poucos dias. E tudo começou com dedo de Vítor Pereira – e do seu Kelvin –, que espoletou, com o triunfo na I Liga, o rol de perdas benfiquistas na Liga Europa e na Taça de Portugal.

Em 2023, é a vez de Vítor Pereira estar no lado oposto e sentir o que é ter tudo a fugir-lhe por entre os dedos em muito pouco tempo.

E o insucesso pode deixá-lo com portas fechadas no Brasil. O treinador português esteve na berlinda há alguns meses, quando recusou manter-se no Corinthians alegando motivos familiares. Dizia que queria regressar a Portugal.

Um desejo legítimo, mas que ficou vazio de nexo quando recebeu no telemóvel uma chamada especial. Era o Flamengo a ligar.

“Surge a nossa primeira conversa e eu fiquei a pensar nisso, porque o Flamengo teria um ano de muitos desafios, um plantel de muita qualidade, e eu acho que no ponto de vista profissional todos os treinadores iriam pensar. Se a minha família entendeu que poderíamos lidar com a situação de saúde, mas que o desafio profissional seria importante para minha carreira, eu tive de tomar uma decisão (...) só se eu fosse maluco é que não pensaria naquilo que este projecto me pode trazer. Portanto, não sei onde está a mentira, não sei onde tive mau carácter”, explicou.

Neste dia, Vítor Pereira, mesmo com a argumentação – ou talvez até pela própria argumentação – conquistou o rótulo de traidor, hipócrita, mentiroso e outras definições mais agressivas, entre os adeptos que o amavam e dirigentes do antigo clube.

A sabedoria popular diz que “nas costas dos outros vejo as minhas”, pelo que, para não ser enevoado pela desconfiança dos flamenguistas, restava a Vítor Pereira um caminho: conquistá-los pela competência, até porque o clube abdicou de Dorival, que lhes deu uma Libertadores e uma Copa do Brasil.

Neste momento, o Flamengo tem, para compensar as três derrotas em três competições, a liderança do campeonato carioca. Vale menos do que qualquer um dos outros títulos? Talvez.

Mas a regularidade conseguida no carioca pode ser suficiente para os dirigentes do Flamengo considerarem que esse nível é replicável no Brasileirão, a partir de Abril, e que os problemas estão a ser apenas nas provas a eliminar.

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