A Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) abre portas esta quarta-feira aos profissionais, na sexta ao público em geral, e a “grande novidade em termos de área temática este ano é a LGBTI+”, destacava Dália Palma, gestora da maior feira de turismo do país, na semana passada.
A estreia é absoluta, segundo sublinha Diogo Vieira da Silva, presidente da Variações – Associação de Comércio e Turismo LGBTI de Portugal, entidade convidada a fazer a curadoria do espaço: “É a primeira vez que uma feira de turismo em Portugal tem uma área dedicada a este segmento”.
Para o responsável, “é um óptimo sinal”, “um excelente passo por parte da organização, que temos de saudar e de estar disponíveis a construir algo positivo”. Mostra “abertura e vontade” em apostar neste público-alvo. “Obviamente não basta dizer que se está disponível a receber, é preciso ter a pro-actividade de demonstrar que os turistas deste segmento serão bem-vindos”, aponta.
A quem visitar este estreante Espaço BTL LGBTI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo; o "+" representa outras identidades), será apresentado “um leque diversificado de oferta”, além de várias actividades e “momentos lúdicos”, revela Diogo Vieira da Silva.
Dado ser a primeira vez, a Variações “desafiou os associados a estarem presentes” e entre as entidades já confirmadas estão “promotores de turismo, como a campanha Proudly Portugal, agentes de viagem, casas nocturnas, nomeadamente bares e animação nocturna, hotéis, alojamentos específicos, agentes imobiliários que têm marcas e comunicam especificamente para a comunidade LGBT, bem como uma sociedade de advogados que auxilia e dá apoio jurídico a pessoas LGBT que se queiram estabelecer em Portugal e que queiram desenvolver actividade económica ou simplesmente obter cidadania portuguesa”.
Entre os espaços representados contam-se clássicos da noite gay lisboeta como o Trumps e o Finalmente, além do clube Posh, festas Enjoy Party Lisbon, hotéis Vila3 Caparica, Next (Madeira) e The Late Birds Lisbon - Gay Urban Resort, ou a sauna Trombeta.
Além da “apresentação dos vários negócios”, estão programados três painéis: quarta-feira é apresentada “uma reflexão sobre o passado, presente e futuro do mercado LGBTI em Portugal”; sexta-feira sobe ao palco a International Gay Lesbian Tourism Association (IGLTA), para falar sobre a temática a nível internacional e apresentar o trabalho da organização; e haverá ainda uma “pequena apresentação da candidatura vencedora de Lisboa ao EuroPride 2025”.
Apesar de “pura coincidência”, uma vez que a parceria para a criação de um espaço LGBTI+ na BTL tinha sido estabelecida no mês anterior a conhecerem-se os resultados, não deixa de ser “um excelente timing” poder conjugar a estreia do espaço com a celebração da vitória da candidatura de Lisboa à realização do maior evento LGBTI+ da Europa em 2025.
Na BTL, além da apresentação da candidatura, a associação quer “demonstrar as oportunidades que existem para este segmento turístico” em Portugal com a realização do evento, uma vez que estima vir a ter “um impacto semelhante ou maior do que a Jornada Mundial da Juventude”.
Para Diogo Vieira da Silva esse é o principal objectivo do espaço na BTL: “fazer com que o mercado português perceba as oportunidades que existem" neste campo, não só durante o EuroPride. “Há quase um bloqueio em trabalhar para o segmento LGBTI+ e a nossa intenção aqui é desbloquear essas mentalidades", aponta. Entre os objectivos, "demonstrar" que esta comunidade turística "é muito interessante, até ao nível da comunicação e marketing”.
“Sem ter uma estratégia para este segmento e sem nunca ter tido grande vontade, tanto pública como privada, para trabalhá-lo, Portugal aparece no top de destinos primordiais" para o grupo. "Imaginem se tivéssemos uma estratégia específica”, comenta. “Neste momento, o que falta a Portugal não é procura" por parte de turistas desta comunidade, diz, mas "oferta, tanto específica como generalizada, e de os agentes económicos actuais comunicarem" tendo em conta este público-alvo. No entanto, “ainda há muito pouco à vontade”, apesar de “as coisas, aos poucos, estarem a mudar”.
Dá o exemplo de Espanha: “Como têm equipas especializadas, uma estratégia específica LGBTI+ e muita oferta, conseguem rentabilizar mais.” Em Portugal, “como não temos essa visão estratégica ainda deixamos escapar várias oportunidades”, defende.
De acordo com dados da IGLTA, estes turistas representam cerca de 10% a nível internacional, mas em algumas regiões, “o nível de facturação pode representar até 20-25%, o que demonstra ser um público-alvo muito interessante, que viaja mais e que tem mais rendimento disponível para gastar”, acrescenta.
Com a criação do novo espaço, a BTL “quer contribuir para a afirmação de Portugal" como destino LGBTI+, posicionando-se assim ao lado de outros grandes mercados como Espanha, Holanda, França ou Brasil”, afirma a organização em comunicado. “Apesar de Portugal se assumir como inclusivo e aberto à diversidade, é necessário desenvolverem-se estratégias de reestruturação da oferta e mostrar-se mais aberto a novos projectos de modo a cativar parceiros e eventos internacionais, assim como comunicar Portugal como LGBTI+ friendly.”