Sondagem: professores ganham ao Governo por KO e sindicatos levam nota positiva

Têm reivindicações “justas”, são os que mais têm feito para encontrar uma “solução” e registam um melhor desempenho. Sondagem da Católica mostra apoio à causa dos professores.

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Professores gritaram palavras de ordem durante a 3.ª Marcha Nacional pela Escola Pública, neste sábado JOSÉ SENA GOULÃO

Não há volta a dar. A apreciação que os portugueses fazem sobre a actual situação dos professores é duplamente desastrosa para o Governo por contraponto à avaliação conquistada pelos sindicatos.

É o que mostram os resultados da última sondagem da Universidade Católica para o PÚBLICO, RTP1 e Antena 1. Foram feitas apenas três perguntas. Replicando a escala de classificação em vigor no ensino secundário, perguntou-se “que nota de 0 a 20” davam os inquiridos “ao desempenho do Governo” e ao desempenho dos sindicatos. Com uma avaliação média de 7,7 valores, o Governo chumba nesta avaliação e, pelas regras do secundário, nem a exame teria direito a ir, já que a classificação mínima para se aceder a estas provas é de 8,5 valores.

os sindicatos ficam em terreno positivo com uma nota média de 11 valores. O Cesop — Centro da Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica de Lisboa apresenta ainda outra forma de olhar para a avaliação que os inquiridos fazem dos protagonistas das negociações em curso: o Governo recolhe 42% de avaliações positivas (no caso, iguais ou superiores a dez), enquanto os sindicatos quase dobram esse valor — 72%.

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Os inquéritos foram realizados por telefone entre 9 e 17 de Fevereiro, quando as greves convocadas pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop) estavam a entrar no seu terceiro mês e já depois de estas paralisações terem levado ao encerramento de centenas de escolas, algumas delas durante semanas, deixando milhares de alunos sem aulas.

Naquela altura tinham também chegado ao fim 18 dias de greves distritais (16 de Janeiro a 8 de Fevereiro) convocadas pela Federação Nacional de Professores (Fenprof) e outros sete sindicatos independentes. E os professores já tinham enchido Lisboa por quatro vezes em protesto.

De igual modo já eram públicos os protestos da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) contra o modo “intermitente” adoptado pelas greves do Stop, que impede o conhecimento antecipado das paragens e deixou, sobretudo em Janeiro, muitas famílias à beira de uma crise de nervos entre as tentativas de deixarem os filhos na escola e as ameaças dos empregadores devido às faltas ao trabalho. Este foi, aliás, um dos argumentos também utilizados no primeiro acórdão que fixou serviços mínimos para as greves convocadas pelo Stop, impostos a partir de 1 de Fevereiro.

Reivindicações são "justas"

Muitos professores contrapõem que têm sido muitos os pais a manifestar apoio à sua luta. A avaliar pela sondagem da Católica, é esta também a posição da maioria dos portugueses. Quando questionados quanto à justeza das reivindicações dos professores, 84% classificam-nas como “justas” e só 12% se situam na posição oposta, dando-as como “injustas” (4% dos inquiridos não responderam, parte por não saberem).

Entre as reivindicações dos professores figuram a recuperação do tempo de serviço congelado para efeitos da progressão na carreira, o acesso ao 5.º e 7.º escalões da carreira docente sem restrições artificiais, a entrada nos quadros dos milhares de professores que continuam a contrato, muitos há dez anos ou mais, a colocação em escolas que lhes permitam ficar perto da família e restringir as deslocações diárias de muitas dezenas de quilómetros.

Estas duas últimas reivindicações foram atendidas pelo Ministério da Educação na proposta para um novo modelo de recrutamento dos professores que apresentou aos sindicatos. As negociações prolongam-se desde Setembro, sem que as duas partes tenham ainda chegado a acordo. O que dificilmente acontecerá.

Os sindicatos reconhecem que o Ministério da Educação fez “pequenos avanços” em relação a algumas das suas exigências, mas já anunciaram que não assinarão um acordo que não contemple a recuperação do tempo de serviço congelado. O Governo já descartou esta possibilidade.

Sindicatos do lado da "solução"

No meio deste braço de ferro, “quem tem tido a melhor postura para se chegar a uma solução: Governo ou sindicatos?” É a última pergunta da sondagem da Católica no que aos professores diz respeito, com os resultados a mostrarem que, por agora, ganham por KO ao Governo. Este recolhe apenas 20% de opiniões favoráveis quanto à sua busca por uma solução. Os sindicatos somam 57%.

Uma sondagem recente da Intercampus para o Correio da Manhã colocava também a maioria dos portugueses (60%) ao lado da classe docente. No início do mês, situando o problema na dualidade de este “ser um ano lectivo substancialmente perdido ou não”, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou aos professores o seguinte: “Há um momento em que a simpatia que de facto há na opinião pública em relação à causa dos professores pode virar-se contra eles.” Para já, e atendendo ao que mostram as sondagens, este alerta parece estar ainda longe de se concretizar.

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