China apresenta plano genérico para negociações de paz na Ucrânia

Proposta chinesa enumera princípios gerais e apelos à racionalidade de ambas as partes, sem condenar ou sequer mencionar a invasão russa. Documento foi recebido com frieza por Kiev e aliados.

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Casa destruída perto de Kherson, no Sudeste da Ucrânia Reuters/NACHO DOCE

O Governo chinês revelou os pormenores de uma proposta para que seja alcançado um “acordo político para a crise ucraniana”. Com uma linguagem neutra e sem condenar abertamente a invasão iniciada há precisamente um ano, o texto foi recebido com reservas pela Ucrânia e pelos seus aliados ocidentais.

O documento não traz muitas novidades face ao que Pequim tem defendido nos círculos diplomáticos desde o início da guerra, com apelos à “racionalidade” das partes envolvidas e avisos para que a situação não “fuja do controlo”. No entanto, a China começa por sublinhar que “a soberania, independência e integridade territorial de todos os países deve ser assegurada de forma efectiva”.

Sem nunca utilizar o termo invasão, o regime chinês considera que o “diálogo e a negociação são as únicas soluções viáveis para a crise ucraniana”. “A comunidade internacional deve manter-se comprometida com a abordagem correcta de promoção de conversações de paz, apoiar as partes no conflito a abrir a porta a um acordo político o mais rapidamente possível, e criar as condições e plataformas para a retoma das negociações”, continua o documento divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Ao longo dos 12 pontos em que é delineada a posição de Pequim não há qualquer referência às condições prévias para que o diálogo seja retomado que têm sido apontadas tanto por Kiev como por Moscovo: a retirada das tropas russas da Ucrânia e o fim do fornecimento de armamento pelos países da NATO, respectivamente.

Pequim pede ainda o fim da “mentalidade da Guerra Fria”, numa aparente crítica ao Ocidente. “A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares”, refere o documento, numa menção indirecta aos sucessivos alargamentos da NATO para a Europa de Leste desde o colapso da União Soviética. A posição chinesa faz eco de um dos argumentos que tem sido apresentado pelo Kremlin para justificar as suas acções na Ucrânia, considerando o alargamento da Aliança Atlântica uma ameaça de segurança.

A China também demonstrou preocupação com a possibilidade de uma ameaça nuclear. “A proliferação nuclear deve ser prevenida e uma crise nuclear deve ser evitada”, lê-se no documento.

A encarregada de negócios da embaixada ucraniana em Pequim, Zhana Leshchinska, disse que a publicação da posição oficial da China é um “bom sinal” e pediu um empenho maior de Pequim junto da Rússia. “Também esperamos que apelem à Rússia para acabar com a guerra e que retirem as suas tropas”, afirmou, acrescentando que o regime chinês tem dialogado sobretudo com Moscovo, e não com as autoridades ucranianas.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse que a China “não tem muita credibilidade” para mediar qualquer tipo de negociação política para o fim da guerra por não ter condenado abertamente a invasão russa.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também pôs em causa a capacidade de Pequim em posicionar-se como mediador das negociações, dizendo que o país “já escolheu um lado ao assinar, por exemplo, um acordo de amizade sem limites [com a Rússia] mesmo antes da invasão”. “Iremos analisar os princípios [da proposta chinesa], claro, mas iremos olhar para eles de acordo com o contexto de que a China escolheu um lado”, afirmou.

O Governo chinês considerou injustas as críticas veiculadas pelos países ocidentais à proposta apresentada esta sexta-feira. “Seria melhor que reflectissem sobre se fizeram alguma coisa de facto pela resolução política da crise ucraniana”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Wang Wenbin, durante uma conferência de imprensa.

Apesar de se tentar apresentar como tendo uma posição imparcial em relação à invasão russa da Ucrânia, a China tem dado um forte apoio diplomático e económico à Rússia. Ainda esta semana, o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, visitou Moscovo, onde manifestou a vontade de Pequim em aprofundar a parceria com a Rússia e iniciou os preparativos para uma cimeira entre Vladimir Putin e Xi Jinping.

Já esta sexta-feira, a China absteve-se pela quarta vez de votar a favor de uma resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas que apelava à retirada das forças russas da Ucrânia.

Os EUA acreditam que Pequim está a ponderar fornecer armamento à Rússia e já avisou que se isso acontecer as relações entre as duas potências arriscam degradar-se ainda mais.

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