Presidente da Moldova denuncia alegado plano russo para derrubar o Governo

Maia Sandu corrobora a alegação feita por Volodymyr Zelensky na semana passada e diz que agentes do Kremlin planeiam acções violentas no seu país.

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Maia Sandu escolheu um novo primeiro-ministro na sexta-feira DUMITRU DORU/EPA

A Presidente da Moldova acusou a Rússia de ter em marcha um plano para desestabilizar politicamente o seu país, fazer cair as instituições e travar o processo de entrada na União Europeia.

Maia Sandu afirmou perante jornalistas que a intenção russa é “derrubar a ordem constitucional, mudando o poder legítimo de Chisinau para um ilegítimo”, e que, para atingir esse objectivo, poderá haver “acções violentas”.

“O plano para os próximos tempos inclui acções com o envolvimento de agentes com formação militar, camuflados em roupas civis, que vão levar a cabo acções violentas, atacar alguns edifícios públicos e até fazer reféns”, disse Sandu, citada pela Associated Press. A governante acrescentou que, assim, a Rússia espera colocar a Moldova “à disposição da Rússia, de modo a travar o processo de integração europeu”.

Na semana passada, em visita a Bruxelas, o Presidente da Ucrânia disse que os serviços secretos do seu país tinham interceptado informação sobre um alegado plano russo para atacar a Moldova. “A Rússia quer controlar este território e explorar os seus recursos e as suas pessoas”, alertou Volodymyr Zelensky perante os chefes de Estado e de Governo dos 27.

A alegação de Zelensky foi confirmada nos dias seguintes por agentes dos serviços secretos moldavos e, esta segunda-feira, Maia Sandu detalhou que, entre Outubro e Dezembro do ano passado, as autoridades de Chisinau detectaram “vários casos com elementos do crime organizado e travaram tentativas de violência”.

“As tentativas do Kremlin de trazer violência para o nosso país não vão ser bem-sucedidas. O nosso objectivo é a segurança dos cidadãos e do Estado. O nosso objectivo é a paz e a ordem pública no país”, declarou Sandu, em conferência de imprensa.

Na sexta-feira, depois de um míssil russo destinado ao território ucraniano ter entrado no espaço aéreo moldavo, a primeira-ministra Natalia Gavrilita demitiu-se inesperadamente e foi substituída por Dorin Recean. O economista e antigo ministro do Interior era actualmente assessor presidencial em Defesa e Segurança e uma das suas primeiras promessas foi trazer “ordem e disciplina” às instituições.

Depois de se demitir, Gavrilita lamentou não ter conseguido cumprir o seu “mandato anticorrupção, pró-desenvolvimento e pró-europeu”, em parte porque o país “se viu confrontado imediatamente com a chantagem energética”. “A aposta dos inimigos do nosso país era de que actuaríamos como os anteriores governos, que abdicaram dos interesses energéticos, que traíram os interesses nacionais em troca de benefícios de curto prazo”, acusou a ex-primeira-ministra.

Ao longo deste ano de guerra na Ucrânia, a Moldova tem sofrido falhas no abastecimento de electricidade de cada vez que há ataques russos com mísseis à infra-estrutura energética do país vizinho e a Gazprom cortou os fornecimentos de gás em pelo menos 30%. A inflação disparou e um recém-formado partido com ligações fortes ao Kremlin, o Shor, começou a organizar manifestações regulares em Chisinau contra a presidência de Sandu.

Segundo uma investigação do The Washington Post, de Outubro, os serviços secretos russos (FSB) têm investido “milhões de dólares” em políticos moldavos com o objectivo de “reorientar o país para Moscovo”. Ilan Shor, o fundador do partido com o seu apelido, que foi condenado por dar um calote de mil milhões de dólares a três bancos moldavos e que se julga que viva agora em Israel, é descrito na investigação como testa-de-ferro para um grupo significativo de oligarcas com boas relações com Moscovo.

Uma outra investigação jornalística, divulgada pelo site Rise Moldova, concluiu que a região separatista pró-russa da Transnístria está há vários anos a ser usada como centro de treino e coordenação de agentes do FSB para desempenharem missões tanto na Moldova como no Sul da Ucrânia.

A Rússia não reagiu ainda às alegações de Maia Sandu esta segunda-feira, mas no passado negou que tenha intenção de intervir na Moldova.

O país pediu formalmente a adesão à União Europeia uma semana depois do início da invasão russa da Ucrânia, em Fevereiro do ano passado. Viria a receber em Junho o estatuto de candidato à adesão.

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