Com a visita de Lula, espera-se que Biden anuncie apoio dos EUA ao Fundo Amazónia

Participação dos Estados Unidos na maior iniciativa de doação financeira para a conservação e combate à desflorestação na Amazónia deve ser revelada em Washington, nesta sexta-feira.

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Araras na Amazónia na zona de Man Reuters/BRUNO KELLY

Com a visita do Presidente brasileiro Lula da Silva a Washington nesta sexta-feira, é esperado que Joe Biden anuncie a primeira contribuição deste país para o Fundo Amazónia. Esta é a principal iniciativa de doação de recursos financeiros para a conservação e combate à desflorestação na maior floresta tropical do planeta, criado pela Noruega e pela Alemanha, e que foi suspenso durante a presidência de Jair Bolsonaro.

O interesse dos EUA no Fundo Amazónia é o reflexo de um desejo de ajudar o Brasil a proteger a floresta, onde a destruição aumentou durante os quatro anos de mandato de Bolsonaro. A ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva, tem um encontro marcado com o enviado especial para o clima do Governo norte-americano, John Kerry. Kerry já tinha indicado que a Administração dos EUA poderia participar no Fundo Amazónia, numa mudança de postura da Casa Branca, adianta o jornal Folha de São Paulo.

O Fundo Amazónia foi criado em 2009, com uma doação inicial da Noruega para ajudar a combater a desflorestação e estimular o desenvolvimento sustentável no Brasil, e a Alemanha juntou-se à iniciativa. Mas em 2019, a Noruega suspendeu novos apoios após o Governo de Jair Bolsonaro, ter alterado a forma de governação do Fundo Amazónia, acabando com a comissão que seleccionava os projectos que podiam ser apoiados e “sem fazer qualquer proposta formal para a composição de um novo órgão colegial de administração”, noticiou na altura o PÚBLICO. Este gesto acabou por levar à suspensão do próprio fundo, que passou apenas a gerir os projectos que já tinham sido aprovados.

Com o regresso à presidência de Lula da Silva, os dois países retomaram o financiamento do Fundo Amazónia, que segundo a Reuters, já recebeu até agora 1300 milhões de dólares (1206 milhões de euros).

O novo Governo, que tem Marina Silva de regresso à pasta do Ambiente, retomou políticas contra a desflorestação – como o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazónia (PPCDAm), e agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) voltaram a fazer acções no terreno, nomeadamente para destruir aeronaves usadas por garimpeiros que entram ilegalmente no território dos índios Yanomami, e que contribuíram fortemente para a actual crise humanitária que vive este povo.

Há uma grande expectativa em termos internacionais sobre o que fará o Governo de Lula, que prometeu conter a destruição da Amazónia. E, com isto, alguns países, para além dos Estados Unidos, estão também a ponderar juntarem-se ao Fundo Amazónia, como o Reino Unido, França e a União Europeia como um bloco.

As previsões oficiais sobre os números da desflorestação na Amazónia, no enanto, não são as melhores. “Devido ao alto desmatamento verificado no segundo semestre de 2022, a avaliação do Ministério do Meio Ambiente é que a taxa em 2023 pode ser até maior que a do ano passado – 13.038 quilómetros quadrados”, diz um comunicado do Observatório do Clima, uma organização não-governamental brasileira que agrupa várias entidades com actividade na área do ambiente.

“A partir de Janeiro de 2023 é nossa responsabilidade, mas vocês sabem tem uma taxa de desmatamento já contratada que vem do Governo anterior”, disse Marina à imprensa esta semana após a primeira reunião da comissão interministerial permanente de prevenção e controle do desmatamento e das queimadas, que abrange 19 ministérios. “Vamos fazer de tudo para que essa curva possa baixar”, disse a ministra, citada no comunicado do Observatório do Clima.