Prevenção dos abusos começa nos seminários, onde “são precisas mais mulheres”

Fechados sobre si próprios, os seminários são “contexto de favorecimento” dos abusos sexuais, segundo investigador.

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Padres são vítimas de um "duplo isolamento" que pode fazer aumentar a "desorganização social", segundo investigador Sandra Ribeiro (arquivo)

As condições de formação dos futuros padres não são a causa para a ocorrência dos abusos sexuais, mas os seminários podem “ser um contexto de favorecimento para pessoas que já estejam desorganizadas ou estejam em vias de se desorganizar” em relação à sexualidade, considera Alfredo Teixeira, professor na Universidade Católica Portuguesa (UCP) e co-autor do livro Anatomia do Poder Eclesiástico, lançado em meados do ano passado.

“Não falaria de um automatismo nem diria que os seminários produzem agressores, mas a pergunta essencial é saber se os seminários previnem suficientemente o surgimento destes problemas”, acrescenta o investigador.

Lembrando que “a maior parte dos abusos identificados diz respeito a uma geração de padres que viveram um seminário diferente do actual”, Alfredo Teixeira diz que “houve nos últimos anos a tendência para se voltar a um modelo de formação dos futuros presbíteros católicos em contexto de separação (da família, dos pares…) e, por outro lado, um reforço muito grande do imaginário da sacralização, ou seja, de achar que a pessoa que é investida tem uma condição incomparável com a dos outros”. Estarão assim criadas as condições “para que alguns comportamentos desviantes não sejam devidamente prevenidos”.

A exclusão das mulheres das equipas de formação dos seminaristas, por exemplo, é um dos aspectos que os privam do confronto com “a diversidade fundamental da existência humana”, na óptica de Alfredo Teixeira, para quem seria salutar que mais mulheres integrassem as equipas que garantem a assistência espiritual aos futuros padres.

A passagem dos padres à vida activa é igualmente problemática. “Estando eles formados neste modelo de separação, em que o seminário funciona como uma instituição total que visa responder a todas as necessidades do indivíduo, o que acontece a seguir é uma transição muito difícil para o mundo activo, onde, até por serem cada vez menos, os padres terão mais dificuldades em construir as solidariedades necessárias às suas vidas”, considera o docente da UCP.

“Alguns estudos sobre a autocompreensão que os padres têm da sua vida sublinham esta espécie de duplo isolamento. Os padres sentem-se isolados em relação à sua tutela, os bispos, e em relação aos seus próprios pares”, sustenta, para considerar que este contexto impede os padres de “construírem relações sociais estáveis e duradouras que ajudem a estruturar as suas vidas”.

Conclusão óbvia, segundo Alfredo Teixeira: “Há que apostar em modelos formativos mais participativos e com uma co-responsabilidade maior de outros intervenientes na vida da Igreja Católica.”

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