Abdulalim sobreviveu ao sismo na Turquia. A sua família não
O fotógrafo da Reuters Umit Bektas fez aos voluntários de busca e resgate uma pergunta já muito repetida: vocês encontraram alguém vivo?
Olhando por debaixo de uma grande laje de betão e tijolo, Abdulalim Muaini gesticula, fracamente, para os seus salvadores. Já se passaram mais de dois dias desde que o terramoto abateu sobre ele a sua casa em Hatay, na Turquia.
Perto dele está a sua mulher, Esra. O resgate chegou tarde demais para ela.
O fotógrafo da Reuters Umit Bektas estava no segundo dia de trabalho em Hatay, um dos lugares mais atingidos pelo sismo de magnitude 7,8 que matou mais de 15 mil pessoas no Sul da Turquia e no Norte da Síria.
Dirigindo-se para um dos bairros mais danificados da cidade, Bektas fez aos voluntários de busca e resgate a mesma pergunta que tinha feito inúmeras vezes: vocês encontraram alguém vivo?
Desta vez, eles disseram que sim: tinham encontrado Abdulalim.
As pernas de Abdulalim ficaram presas sob o betão, mas ele estava consciente e conseguiu falar com os socorristas.
Umit não conseguiu falar directamente com Abdulalim, mas dois dos seus amigos estavam por perto. Disseram que Abdulalim era de origem síria, de Homs. Tinha fugido da guerra civil e casou-se com Esra, uma turca. O casal teve duas filhas, Mahsen e Besira, disseram eles. Não ficou então claro o que aconteceu com as meninas.
Os resgates podem demorar muito tempo e algumas horas depois Umit regressou para ver Abdulalim ser, finalmente, retirado dos escombros. Estava coberto de poeira cor de cinza, com um olho inchado, desidratado e a precisar de cuidados médicos. Mas sobreviveu.
A sua família não. No solo jaziam três corpos envoltos em cobertores — Esra, Mahsen e Besira.