Guterres receia que o mundo esteja a caminhar “de olhos bem abertos” para uma “guerra mais ampla”

Na apresentação das prioridades para 2023, secretário-geral da ONU disse que “se todos os países cumprissem as suas obrigações, no âmbito da Carta da ONU, o direito à paz estaria garantido”.

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António Guterres discursou esta segunda-feira na Assembleia-Geral da ONU EPA/JUSTIN LANE

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou esta segunda-feira para o risco de o conflito na Ucrânia evoluir para uma “guerra mais ampla”, numa altura em que, argumentou, as “perspectivas de paz continuam a diminuir” e em que “a escalada e o derramamento de sangue continuam a crescer”.

“Não receio que o mundo esteja a avançar, sonâmbulo, para uma guerra mais ampla; receio que o esteja a fazer de olhos bem abertos”, afirmou o ex-primeiro-ministro português, num discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, destinado a apresentar as suas prioridades para 2023.

Segundo Guterres, a invasão russa da Ucrânia está a “infligir uma dor incalculável sobre o povo ucraniano” e tem “implicações profundas a nível mundial: “O mundo precisa de paz. Uma paz que se ajuste à Carta das Nações Unidas e ao Direito Internacional”.

Abordando também o conflito israelo-palestinano, onde uma solução “se distancia a cada dia”; o Afeganistão, “onde os direitos das mulheres são pisados e os ataques terroristas continuam”; o Sahel, “onde a segurança se deteriora a um ritmo alarmante”; a Birmânia, “que enfrenta novos ciclos de violência e repressão”; e o Haiti, “onde a violência de gangues mantém o país refém”, Guterres pediu um novo compromisso internacional em redor dos princípios e valores da Carta da ONU.

“Se todos os países cumprissem as suas obrigações no âmbito a Carta, o direito à paz estaria garantido”, afiançou. “Chegou a altura de transformarmos a nossa abordagem para a paz e voltarmos a comprometer-nos com a Carta – pondo os direitos humanos e a dignidade em primeiro lugar.”

O secretário-geral da ONU defendeu ainda que é preciso “acabar com a ameaça representada por 13 mil armas nucleares” que existem em todo o mundo.

Entre as prioridades de Guterres para 2023, assentes em sete eixos principais, destaca-se, a par da defesa do “direito à paz”, a luta contra as alterações climáticas e contra a exploração de combustíveis fósseis, e a defesa de um novo modelo de diminuição das desigualdades.

“Quando vemos a pobreza e a fome a aumentarem em todo o mundo (…) e que os 1% [da população mundial] mais ricos apoderaram-se de quase metade de toda a nova riqueza produzida na última década, algo está fundamentalmente errado com o nosso sistema económico e financeiro”, criticou.

Referindo a conferência de 1941 que levou à criação do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, Guterres pediu um novo “momento Bretton Woods” e uma “transformação radical” da arquitectura financeira global.

E aos “produtores e facilitadores de combustíveis fósseis”, que “arrecadam lucros monstruosos” com eles, dedicou uma “mensagem especial”: “Se não são capazes de definir um caminho para as zero emissões, com as metas para 2025 e para 2030 a cobrirem toda a vossa operação, então não deveriam estar nesse negócio.”

António Guterres também pediu esforços redobrados na luta contra a propagação de discurso de ódio na Internet, na defesa da igualdade de género e no respeito pela universalidade dos direitos culturais, que, sublinhou, estão “sob ataque de todos os lados”, desde “a destruição de cemitérios sagrados até à conversão religiosa patrocinada pelo Estado e os chamados programas de reeducação”. com agências

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