Brian Brobbey precisa de uma redenção suprema no Ajax

Formado no clube, Brobbey quis sair a custo zero e deixou o Ajax “descalço”. Depois, regressou por 15 milhões de euros. A sequência não soou bem aos adeptos, mas o jogador está a fazer por se redimir.

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Brian Brobbey DR

O Ajax aproveitou neste domingo para se aproximar da liderança da Liga neerlandesa, conjugando uma vitória por 5-0 frente ao Cambuur com o empate do AZ e com o duelo entre Feyenoord e PSV, que fez ambos perderem pontos. Para ter este domingo sorridente, precisou da ajuda de um rapaz que marcou dois golos, que chegou aos dez no campeonato e que está em pleno processo de perdão.

Brian Brobbey colocou-se de livre vontade num dos piores cenários de um desportista: ter de conquistar os próprios adeptos. Mas fê-lo de forma inteligente, talvez mais inteligente do que qualquer outro numa situação semelhante.

O caso não é difícil de explicar. Brobbey, neerlandês de ascendência ganesa, fez toda a formação no Ajax, desde os 12 anos. Quando chegou à equipa sénior, em 2020/21, mostrou ser um autêntico “panzer”, com força e potência físicas anormais e com seis golos em 18 jogos – e apenas um deles como titular.

Aqui, tinha duas opções: renovar com o clube e, eventualmente, vir a render bom dinheiro ou deixar o contrato acabar e sair “de borla” para outras paragens.

Brobbey optou pela segunda hipótese e juntou-se ao RB Leipzig. Na altura, os adeptos do Ajax não apreciaram.

O plot twist de tudo isto é que, depois do fracasso na Alemanha, Erik ten Hag enviou uma mensagem a Brobbey e perguntou-lhe se não queria ir para o Manchester United.

“Agradeci-lhe e disse-lhe que queria regressar ao Ajax. [A história com o Ajax] ainda não estava acabada”, contou ao Voetbal International. E acrescentou que quer compensar o clube, dando-lhe mais tarde “uma transferência avultada”.

Certo é que o Ajax recebeu o jogador de novo e teve de pagar 15 milhões de euros para ter de volta alguém que tinha saído de graça – e muitos adeptos não acharam piada à opção do clube.

Foi Beckham, mas melhor

Agora, Brobbey está em processo de perdão, porque nunca será fácil conquistar os adeptos do clube que deixou a “custo zero”. Mas ter sido capaz de recusar o Manchester United já foi um bom começo nessa redenção.

Extrapolando para o contexto português, os adeptos do Benfica e do Sporting não ficariam de coração cheio se Enzo e Porro tivessem recusado “tubarões” da Premier League? Com Brobbey e o Ajax não será muito diferente.

Um detalhe curioso em tudo isto – e que adensa ainda mais o poder desta redenção – é que Brobbey já chegou a assumir que o seu sonho de infância era... jogar no United.

Disse-o à ESPN, quando questionado sobre o clube no qual gostaria de jogar um dia. E respondeu “Manchester, Manchester United”, seguido do riso de quem sabia que meses antes tinha recusado ir para Inglaterra.

Mas não foi apenas com esta opção surpreendente que Brobbey justificou manchetes e tweets.

Em 2021, num jogo frente ao Utrecht, candidatou-se a um dos penáltis mais bizarros da história do futebol. Não se limitou a ser David Beckham, colocando a bola na bancada, mas fez ainda melhor, enviando-a para fora do estádio (vídeo em baixo).

Mas esse foi um detalhe negativo numa carreira que ainda vai bem a tempo de prometer o que cumpriu. Brobbey, que foi duas vezes campeão da Europa sub-17 pelos Países Baixos, ainda só tem 21 anos.

Trata-se de um avançado não especialmente alto, que não passa de um metro e oitenta, mas com um poder físico impressionante. Muita potência, bastante velocidade, capacidade nos duelos corpo a corpo e, sobretudo, muito músculo – há até nas redes sociais imagens com foco na perna de Brobbey, para mostrar o desenvolvimento incomum das coxas do neerlandês, uns autênticos “troncos”.

Apesar de não ser muito dotado a nível técnico, o neerlandês compensa-o com uma boa capacidade de explorar o espaço, um razoável jogo aéreo e com "faro" de golo.

Por estes dias, e com margem para limar defeitos e acrescentar virtudes, Brian Brobbey é o melhor marcador do Ajax na Liga neerlandesa e só está a um golo do melhor marcador. A isto chama-se redenção.

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