“Processo revolucionário” em curso no Irão é irreversível, afirma Nobel da Paz

Shirin Ebadi acredita que a morte de Mahsa Amini foi o rastilho que as autoridades iranianas não vão conseguir apagar. Mas pede ao Ocidente que não interfira: “Lutar pela liberdade é o nosso dever”.

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Shrin Ebadi, advogada, defensora dos direitos humanos, foi galardoada com o prémio Nobel da Paz em 2003 Reuters/STAFF

A prémio Nobel da Paz iraniana Shirin Ebadi acredita que “o processo revolucionário” desencadeado pela morte, o ano passado, da jovem curda Mahsa Ahmini às mãos da polícia de costumes do Irão acabará por levar à queda da República Islâmica.

Desde que Ahmini foi detida por “vestuário inapropriado”, porque o véu não lhe cobria totalmente o cabelo, e acabou por morrer sob custódia da polícia a 16 de Setembro, que as manifestações não têm dado tréguas ao regime iraniano.

“Este processo revolucionário é como um comboio que não irá parar até chegar ao seu destino final”, garante Shirin Ebadi, em entrevista à Reuters em Londres. “Por vezes, o comboio anda depressa, noutras, anda devagar”, mas a sua última estação será “o colapso do regime”.

Para a Nobel iraniana, o facto de o Estado ter recorrido à violência e à morte para reprimir os manifestantes, ao invés de os travar, de lhes calar a voz, apenas serviu para aprofundar a raiva sentida pelos iranianos que protestam contra o regime clerical que governa o país desde a Revolução Islâmica de 1979 que depôs o xá Reza Pahlavi.

“Os protestos têm agora uma outra forma, mas não acabaram”, garante a advogada defensora dos direitos humanos. No princípio, passavam por “grandes protestos nas ruas”, mas com a forte repressão, as prisões em massa e as execuções, vem assumindo outras formas, mas não parou: “A violência não foi favorável ao regime.”

Até porque a situação conjuntural ajuda a alimentar o desespero de muitos que saem às ruas para se manifestar, com uma crise económica profunda por causa das sanções dos Estados Unidos e a insistência do regime em desenvolver um projecto nuclear. Com uma inflação galopante e a subida do desemprego (ambas acima de 50%, de acordo com o instituto de estatísticas iraniano), sem grandes perspectivas de futuro, muitos dos manifestantes sentem que já nada têm a perder.

Ebadi defende que Ocidente não deve interferir no que se está passar. “Não quero que os países ocidentais ajudem as pessoas no Irão. Lutar pela liberdade e pela democracia é nosso dever, dever do povo do Irão, e é isso que estamos a fazer.

“O Ocidente só tem de não ajudar o Governo do Irão” e reduzir as relações diplomáticas, passando de embaixadas a consulados.