Nova arma dos EUA para a Ucrânia pode duplicar alcance dos ataques
A bomba com rocket permitiria à Ucrânia atingir alvos em quase toda a zona ocupada, incluindo a Crimeia, que tem sido fundamental para o esforço de guerra russo.
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Uma nova sigla está prestes a entrar no léxico da guerra na Ucrânia: GLSDB. São as iniciais de Ground-Launched Small Diameter Bomb, uma munição de artilharia com foguete que deverá integrar o próximo lote de armamento que os Estados Unidos vão fornecer a Kiev, cujo anúncio é esperado para esta sexta-feira.
A GLSDB distingue-se das munições que a Ucrânia tem actualmente sobretudo porque pode atingir alvos até 150 quilómetros de distância, duplicando o alcance dos sistemas que os ucranianos possuem. Isto permitir-lhes-ia disparar a partir de posições mais recuadas ou, encontrando-se perto da linha da frente, atingir alvos russos mais distantes. Praticamente toda a actual zona ocupada pela tropa russa no Leste da Ucrânia, uma parte da Crimeia e até mesmo alguns locais na Rússia ficam, em teoria, ao alcance desta arma.
O porta-voz de Vladimir Putin, Dmitri Peskov, advertiu há duas semanas que o fornecimento de armas capazes de atingir território russo seria “extremamente perigoso” e poderia “levar o conflito para um novo nível”. No Verão passado, quando acederam ao envio de Himars para a Ucrânia, o Presidente e o secretário de Estado dos Estados Unidos fizeram questão de dizer e escrever que esse sistema de artilharia só devia ser usado no campo de batalha.
Vários responsáveis políticos ucranianos, incluindo o Presidente Volodymyr Zelensky, têm insistido na necessidade de receberem o Sistema Míssil Táctico do Exército (ATACMS, na sigla em inglês), que tem um alcance superior a 300 quilómetros e é de fabrico norte-americano. Até agora, os Estados Unidos responderam negativamente a esses apelos, em parte para não serem acusados de estarem a envolver-se directamente e a intensificar a guerra, em parte porque este sistema é bastante mais caro do que a GLSDB.
Esta é uma arma que começou a ser desenvolvida pela empresa sueca Saab e pela americana Boeing em 2014, mas até hoje, segundo o The Wall Street Journal, não suscitou quaisquer encomendas. A Reuters noticiou em Novembro que foi a Boeing que propôs ao Departamento de Defesa norte-americano o envio desta munição, que segundo um documento interno da empresa, visto pela agência, poderia chegar ao terreno na Primavera.
O Journal adianta que a Boeing tem unidades em stock e que o seu fornecimento a Kiev seria feito através da Iniciativa de Assistência à Segurança da Ucrânia, promovida pelos Estados Unidos, que financia a compra de equipamentos novos em vez de os retirar dos armazéns das Forças Armadas americanas.
Esta munição combina uma pequena bomba originalmente desenhada para ser lançada de aviões com um rocket que permite dispará-la a partir de um sistema terrestre. Os fabricantes asseguram que atinge alvos com grande precisão e que está equipada com um sistema de navegação que lhe permite contornar obstáculos como sistemas de defesa antiaérea, ao contrário de outras armas de artilharia que descrevem um arco até ao alvo. A GLSDB é compatível com os sistemas de lançamento de rockets que a Ucrânia já recebeu dos aliados.
“Neste momento não conseguimos alvejar instalações militares russas a mais de 80 quilómetros de distância. Se conseguirmos atingi-las praticamente até à fronteira russa, ou na Crimeia ocupada, claro que isto vai diminuir o potencial atacante das forças russas”, disse à Reuters o analista militar ucraniano Oleksandr Musiienko.
A península que Moscovo anexou em 2014 tem sido fundamental para a actual campanha militar russa e alguns especialistas, como o antigo comandante das forças dos Estados Unidos na Europa, Ben Hodges, consideram que este será o campo “decisivo” para o desfecho da guerra. “Nos próximos meses a Ucrânia vai criar as condições para a libertação da Crimeia”, disse o general ao Business Insider, argumentando que o país “nunca estará seguro ou capaz de reerguer a sua economia enquanto a Rússia tiver a Crimeia.”
No seu entender, o Ocidente deve fornecer à Ucrânia tudo o que lhe permita desestabilizar as operações militares lançadas a partir da Crimeia e “fazer com que [o controlo da] Crimeia se torne insustentável para os russos”.