Excluída má prática generalizada no Amadora-Sintra. Mas três médicos são acusados de má opção numa cirurgia
Perícia da Ordem dos Médicos concluiu que não houve “má prática generalizada” mas foi identificada uma situação em que terá sido adoptada uma “má opção cirúrgica”.
Não houve má prática médica generalizada no serviço de cirurgia geral do Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), mas num dos 18 casos avaliados por peritos da Ordem dos Médicos (OM) foi identificada uma “má opção cirúrgica”. Acolhendo as conclusões da OM na totalidade, o Amadora-Sintra anunciou esta quinta-feira que vai instaurar procedimentos disciplinares aos cirurgiões que participaram nesta cirurgia, uma vez que o perito da ordem que colaborou com o hospital assumiu que a má decisão poderá configurar má prática clínica. O PÚBLICO sabe que são três os cirurgiões em causa e que terão agora a hipótese de apresentar a sua defesa.
O inquérito de averiguações do hospital - que foi instaurado na sequência de uma exposição apresentada pelo ex-director do serviço de cirurgia geral - está, assim, finalizado e as conclusões foram transmitidas ao Ministério Público, ao Ministério da Saúde, à Inspecção-Geral das Actividades em Saúde, à Entidade Reguladora da Saúde e à OM, explicou a directora clínica, Ana Valverde, num vídeo enviado à imprensa esta quinta-feira.
"Na saúde lidamos diariamente com situações de doença complicada e em fases avançadas, mas temos a absoluta confiança nos profissionais do nosso hospital, que todos os dias fazem o seu melhor de acordo com as boas práticas médicas", enfatizou Ana Valverde, sublinhando que os processos disciplinares vão permitir aos cirurgiões envolvidos elaborar a sua defesa. A directora clínica frisou que não há ainda conclusões que permitam atribuir responsabilidades definitivas dos profissionais indicados.
Sublinhando que fez 17.900 cirurgias no ano passado, o hospital refere, em comunicado, que acolheu “na íntegra” as conclusões da perícia solicitada à OM. "Essa perícia concluiu que não foram encontrados indícios de má prática generalizada, ou violação das "leges artis" (boas práticas médicas, de acordo com o actual conhecimento científico) nos casos denunciados". Mas acrescenta que, no conjunto das situações avaliadas, se identificou uma “em que se pode considerar que terá sido tomada ‘uma má opção cirúrgica’ (citação retirada do relatório pericial da OM)”.
O hospital destaca, porém, que “o relatório da OM – entidade com total idoneidade e imparcialidade para avaliar do ponto de vista técnico as denúncias em causa – afasta a suspeita generalizada que pende sobre o Serviço de Cirurgia Geral desde o passado dia 13 de Janeiro, altura em que ocorreu a divulgação pública das denúncias de alegados casos de más-práticas cirúrgicas". Foi o Expresso que avançou com a notícia, referindo que dois médicos denunciaram que 22 doentes operados no hospital teriam morrido ou ficado “mutilados” na sequência de supostas más práticas em cirurgias no Amadora-Sintra.
É uma história de contornos intrincados. Tudo começou com uma exposição do ex-director do serviço de cirurgia geral em que este terá denunciado alegados casos de má prática clínica mas também se referia a situações que implicaram a transferência de doentes para outros serviços do hospital ou mesmo para outros hospitais para serem operados.
Os peritos da OM começaram por analisar uma primeira queixa, com 18 casos elencados. Destes, apenas sete foram sujeitos ao crivo da peritagem, porém, tendo os restantes sido excluídos porque os doentes não foram operados no Amadora-Sintra, ou não foram tratados no serviço de cirurgia geral, ou porque estavam em causa situações de doença terminal.
Há ainda uma segunda denúncia com mais seis casos que não foram ainda avaliados.
O ex-director do serviço de cirurgia geral demitiu-se do cargo no início do ano passado, depois de ter sido alvo de um processo disciplinar na sequência de queixas de assédio laboral, processo que acabaria por ser arquivado.