John Cale sem pressa e sem destino

Aos 80 anos, já abateu a pressa de chegar e a necessidade de saber para onde se dirige. Vai, simplesmente.

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Em toda a sua extensão, Mercy é um álbum de discrição Marlene Marino

John Cale tem 80 anos. Demoremo-nos um pouco sobre este facto. OK, agora avancemos. Aos 80 anos, e com a sua estaca na História da música bem firme desde que, por breves quatro anos, ajudou a revolucionar as possibilidades do pop/rock com os Velvet Underground, podia estar confortavelmente a gozar a reforma, a dar descanso a um corpo que viveu uma Nova Iorque que muito exigia aos corpos nas décadas de 60 e 70, e a preocupar-se em dormir no melhor colchão do mercado, a ver jogos de ténis no sofá e a descobrir o mindfulness. Podia até, com ordem médica, andar a tocar meia-dúzia de chorudos concertos por ano, em que se alcandorasse sobre o nome da banda que formou com Lou Reed e que foi apadrinhada por Andy Warhol, reacendendo memórias próprias e nostalgias alheias. Podia até mesmo dedicar-se a momentos celebratórios dos seus notáveis álbuns a solo, reinterpretando na íntegra ao vivo Vintage Violence, Paris 1919, Fear, Honi Soit ou Music for a New Society — entre os 16 álbuns de estúdio, teria muito por onde escolher e entreter-se.

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