Costa admite “erros” do Governo e promete mais na habitação
A entrevista do primeiro-ministro assinala um ano das eleições que deram ao PS maioria absoluta. Costa lembra que é raro o partido do Governo vencer europeias, mas não vê que isso provoque uma crise.
O primeiro-ministro, António Costa, admitiu que o Governo, no quase um ano que tem desde que venceu as eleições, "cometeu erros" e "pôs-se a jeito" no que respeita à sucessão de casos que abalaram o executivo e que até provocaram demissões. Em entrevista à RTP, e numa altura em que o cenário de eleições antecipadas junto às europeias de 2024 foi posto em cima da mesa, o chefe do Governo desvalorizou essa possibilidade e anunciou mais medidas para a habitação.
"Neste ano, seguramente o Governo pôs-se a jeito, cometeu erros", disse António Costa, em entrevista à RTP. A entrevista do primeiro-ministro acontece quando se assinala um ano das eleições legislativas que deram ao PS a maioria absoluta.
Apesar de reconhecer o contributo do próprio executivo para os erros políticos, o chefe do Governo defendeu que "o maior tropeção" neste ano foi a guerra na Ucrânia e as consequências na inflação e na vida dos portugueses. Costa disse ainda que neste ano aprendeu muito, nomeadamente, que uma maioria "reforça muito o escrutínio" e admitiu que "porventura nem sempre" o Governo respondeu prontamente.
Questionado sobre se, tal como o secretário-geral do PCP, considera que existe uma "gestão política dos recentes casos judiciais", Costa afastou essa leitura. "Não faço essa avaliação e não quero acreditar que seja assim", disse, revelando assim um entendimento sobre o actual ambiente político diferente daquele que foi apresentado pelo ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, que recentemente pediu rapidez ao Ministério Público para lidar com denúncias nas quais vê interesse "político partidário".
A crise política recente tem colocado em cima da mesa a possibilidade de o Governo não chegar ao fim da legislatura. E no domingo, o analista político e antigo presidente do PSD Luís Marques Mendes defendeu que a possibilidade de uma antecipação da ida às urnas acontecer junto às europeias de 2024 era mais provável.
Costa considera pouco provável. Desejando que o seu partido vença as eleições para o Parlamento Europeu, tratou de baixar a expectativa, numa tentativa de condicionar a leitura que se pode fazer de um mau resultado. "Até agora só três vezes é que o partido que está no Governo ganhou as eleições europeias, e nunca foi isso que causou uma crise política", disse, lembrando que os "portugueses disseram que querem estabilidade".
Pacote para a habitação
Na mesma entrevista, o primeiro-ministro anunciou que, no conselho de ministros a 16 de Fevereiro, a ministra da Habitação, Marina Gonçalves, " vai apresentar uma lei que é um pacote com um conjunto de medidas transversais".
E elencou-as: "Disponibilizar mais solos públicos para construção de habitação, forte de incentivo à construção de habitação por promotores privados", admitindo que isso possa ser feito através de benefícios fiscais, "incentivos para colocar no mercado de arrendamento habitações que estejam com outro uso ou fora do mercado, e apoiar os jovens no arrendamento de habitação".
Mas se na habitação, Costa tinha medidas para apresentar, no combate à inflação sinalizou apenas que se for necessário haverá soluções para "necessidades extra". Antes, o chefe do Governo lembrou que vários rendimentos e apoios foram aumentados no início deste ano e com o acordo de rendimentos vão continuar a aumentar. Ou seja, os sinais são de que 2023 já não será como em 2022, quando o Governo anunciou em vários momentos ajudas extraordinárias directas, designadamente aos mais vulneráveis.
Até porque, Costa vê sinais de crescimento - os dados de 2022 deverão ficar "acima das previsões iniciais", disse - e não vê preocupações no mercado de trabalho, a não ser a falta de mão-de-obra em alguns sectores.
No que toca aos professores, Costa lembrou que as negociações ainda decorrem, mas desfiou as várias medidas já apresentadas pelo Governo e que ainda não convenceram aquela classe profissional. Neste campo, mostrou-se cauteloso, até porque "tudo o que se decidir para os professores, dificilmente não se aplica às outras carreiras".