Há um novo tesouro da pintura de Gustave Caillebotte para ver no Museu de Orsay

Partie de bateau (Passeio de barco) foi adquirido por 43 milhões de euros e oferecido ao museu de Paris. Uma obra para redescobrir um mestre do impressionismo.

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Partie de bateau foi pintada entre 1877-78 Teresa Suarez/epa

Os visitantes do Museu de Orsay contam, desde esta segunda-feira, com uma nova obra-prima a enriquecer as galerias deste museu em Paris que é um dos principais “templos” da pintura impressionista: Partie de bateau (Passeio de barco), que Gustave Caillebotte (1848-1894) pintou no final da década de 1870, foi adquirido para a colecção nacional dos museus de França por 43 milhões de euros, numa operação patrocinada pelo grupo LVMH, uma holding formada pelas marcas de artigos de luxo Louis Vuitton, Moët et Chandon e Hennessy.

O valor da compra desta obra – das raras do movimento impressionista que se encontravam ainda em mãos privadas – vem aproximá-la de outra pintura do mesmo artista, Jeune homme à la fenêtre (Jovem à janela, 1876) que em Novembro de 2021 foi adquirida em leilão pelo Museu Getty de Los Angeles por 53 milhões de dólares (48,6 milhões de euros, pela taxa actual), estabelecendo então um recorde nas obras de Caillebotte.

Em declaração ao diário Le Monde, o director dos museus de Orsay e l’Orangerie, Christophe Leribault, salientou a importância desta incorporação, de uma obra que “tem uma força fotográfica e cinematográfica absolutamente inédita para a época, e que diferencia Caillebotte de todos os outros génios do impressionismo”.

Em simultâneo, avançou a AFP, o ministério da Cultura francês anunciou a realização, em 2024, de uma grande exposição no Museu de Orsay dedicada a este pintor. Vai fazer parte de um vasto programa de comemoração nacional a pretexto da passagem dos 150 anos sobre o nascimento deste movimento estético que marcou a história da pintura – uma celebração que, certamente derivado à pandemia de covid-19, vem com um atraso de dois anos, tendo como referência a data da criação da obra-farol de Claude Monet, Impression: soleil levant (1872, Impressão: nascer do sol, actualmente na colecção do Museu Marmottan Monet, também em Paris).

Até lá, Partie de bateau (1877-78) vai ser também mostrada numa vintena de museus franceses, a dar a conhecer ao país esta obra que no início de 2020 foi classificada como “tesouro nacional”.

Partie de bateau representa um homem de fato domingueiro e cartola a passear de barco, muito provavelmente, avança o jornal Le Point, no rio Yerres, na região Île-de-France, perto da comuna de Essonne, onde a família de alta burguesia de Gustave Caillebotte detinha uma propriedade.

Diferentemente do que acontece com obras de outros grandes mestres do impressionismo – como Renoir e Manet, de quem Caillebotte foi amigo –, a figura do homem no barco não foi ainda identificada. “Trata-se mais de uma cena da vida moderna [da época], do que de um retrato”, diz à jornalista Carine Azzopardi, da France Télevisions, Paul Perrin, responsável pelas colecções do Museu de Orsay.

Perrin situa Partie de bateau entre o conjunto de obras que Caillebotte pintou no final da década de 1870 que têm como tema as horas de lazer e os passeios de barco nos rios com que se ocupava a sociedade burguesa e urbana parisiense da época. “É verdadeiramente um tema que Caillebotte vai tratar de uma forma inédita, radicalmente nova, propondo enquadramentos realmente muito fortes, muito envolventes – dizia-se, na altura, muito fotográficos”, especifica o curador do museu parisiense.

Com esta operação e atenção em volta de Partie de bateau (a pintura também surge identificada como Le canotier au chapeau haut de forme - O barqueiro de cartola), o nome e a obra de Gustave Caillebotte – que, em Paris, teve uma retrospectiva no Grand Palais em 1994 e, mais recentemente, em 2011, uma exposição no Museu Jacquemart-André – vão certamente poder ser revistos e reapreciados, fazendo com que deixe de ser visto apenas como “um dos amigos dos impressionistas”.

Falecido com apenas 45 anos, Caillebotte deixou uma obra constituída por meio milhar de pinturas, muitas delas representando “vistas” de Paris, e também uma importante colecção de obras dos seus amigos Renoir, Monet e Cézanne, que doou ao Estado francês.

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