Degelo está a levar os ursos polares para encontros perigosos com os humanos

Com o gelo a derreter, os animais aproximam-se das pessoas e risco de confrontos motivados pela fome aumenta. Os ataques são raros, mas na semana passada um urso matou uma mãe e o seu filho de um ano.

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Entre 1870 e 2014, houve apenas 73 ataques documentados de ursos polares selvagens no Canadá, Gronelândia, Noruega, Rússia e Estados Unidos, resultando em 20 mortes humanas, de acordo com um estudo de 2017 REUTERS/Johannes Eisele

Um urso polar perseguiu os residentes perto de uma escola numa pequena aldeia indígena no Alasca na semana passada, matando uma mãe e o seu filho de um ano de idade, antes de outro residente matar o urso, disseram as autoridades do estado. As autoridades estão a investigar este caso.

Os ataques de ursos polares são extremamente raros. Entre 1870 e 2014, houve apenas 73 ataques documentados de ursos polares selvagens no Canadá, Gronelândia, Noruega, Rússia e Estados Unidos, resultando em 20 mortes humanas, de acordo com um estudo de 2017. Ainda assim, o recente ataque volta a levantar a questão sobre o impacto do aquecimento global e se este poderá aumentar o risco de ataques de ursos polares, que são poderosos predadores.

Nenhum ataque isolado pode ser atribuído às alterações climáticas e o United States Fish and Wildlife Service diz que ainda está a investigar as circunstâncias do ataque no Alasca.

Mas o aumento das temperaturas está a derreter o gelo marinho por onde os ursos polares se deslocam para encontrar parceiros, criar filhotes e caçar focas para manter a sua dieta rica em gordura. A redução do gelo tem colocado a população de ursos polares em risco de declínio.

Os cientistas dizem que as alterações climáticas estão a forçar o carnívoro árctico a passar mais tempo no interior do que no passado – colocando a possibilidade de fugas que podem ser perigosas tanto para os humanos como para os ursos.

Antes da semana passada, o último ataque mortal de ursos no Alasca tinha sido em 1990, segundo Geoff York, director sénior de conservação no grupo ambiental Polar Bears International, que co-escreveu o artigo de 2017. Na altura, o urso mostrou, tal como outros que podem atacar, sinais de fome.

“Os animais em más condições físicas estão mais propensos a correr riscos. Estão mais propensos a desesperar e a fazer coisas que um urso saudável, normalmente, não faria. E esses são os ursos com que as pessoas têm de se preocupar especificamente”, disse York ao The Washington Post.

Ursos polares "procuram alternativas" ao gelo

Os gestores federais das zonas de vida selvagem dizem que o desaparecimento do gelo é “a principal ameaça aos ursos polares”, que estão listados ao abrigo da Lei das Espécies Ameaçadas de Extinção.

“Espera-se que as interacções entre humanos e ursos polares aumentem à medida que os ursos polares passam mais tempo em terra e em mais sítios”, disse York.

Os investigadores relatam uma “presença crescente” de ursos polares em terra e nas zonas costeiras, desde o Alasca à Baía de Baffin, perto da Gronelância, até Svalbard, um arquipélago norueguês no Oceano Árctico, a norte da Europa continental.

Algumas comunidades nas proximidades das grandes criaturas tentaram reduzir o risco de encontros entre humanos e ursos ao incluir patrulhas de ursos polares na Rússia e no Canadá, por exemplo.

Jon Aars, que tem liderado o programa de ursos polares do Instituto Polar norueguês desde 2003, observa que Svalbard tem “regras estritas de comportamento quando se está fora de casa”, ensinando aos residentes sistemas de aviso e exigindo que eles transportem armas se estiverem no campo.

As condições e a fome das populações de ursos polares variam, de acordo com Aars, que disse que os ursos em Svalbard estavam “ainda em muito boa forma”. Embora seja mais perigoso encontrar um urso com mais fome ou mais novo, eles podem atacar mesmo que bem alimentados, acrescentou.

Os ursos, entretanto, “fazem o melhor que podem da situação, procuram alternativas quando não há gelo”, disse Aars. Mas acrescentou: “Penso que não é muito provável que consigam sobreviver em áreas onde não há gelo marinho de todo”.