Homem, licenciado a viver com os pais: assim é o consumidor de produtos à base de cannabis em Portugal

Inquérito do SICAD, feito em vários países, diz ainda que, segundo os utilizadores, o consumo é feito para reduzir o stress, melhorar o sono e tratar a depressão.

Foto
GRAS GRÜN/Unsplash

O consumidor tipo de substâncias à base de cannabis é homem, licenciado, trabalha, vive com os pais e diz consumir estes produtos para reduzir o stress, melhorar o sono e tratar a depressão, revela um inquérito divulgado esta sexta-feira.

Estes são alguns dos dados apurados pelo inquérito online, dirigido a utilizadores de drogas com 18 ou mais anos, promovido em cerca de 30 países europeus, entre os quais Portugal, através do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).

Promovido pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, o questionário online de autopreenchimento decorreu entre Março e Maio de 2021 e envolveu, em Portugal, uma amostra de 928 consumidores de canabidiol (CBD) ou produtos com baixo teor de Tetrahidrocanabinol (THC) — substâncias químicas encontradas na planta cannabis sativa L — adquiridos em lojas.

Quando consumido, o THC é responsável pelo sentimento de euforia e o CBD tende a produzir um efeito de tranquilidade, refere o SICAD, adiantando que a comercialização de alimentos com partes da planta cannabis sativa L (sementes, flores, folhas, extractos) é enquadrada por regulamentos da União Europeia, tendo os produtos de ser obrigatoriamente provenientes de variedades da planta com THC inferior a 0,2%.

"A comercialização de alimentos aos quais tenham sido adicionados canabinóides (nomeadamente o CBD e o THC) não está autorizada", sublinha o SICAD num comunicado que acompanha o inquérito.

Segundo o inquérito, "o consumidor tipo de CBD ou produtos de baixo teor de THC em Portugal é homem, frequenta ou já concluiu o ensino superior, é empregado por conta de outrem a tempo inteiro e vive com os pais".

A maioria dos inquiridos adquire estas substâncias em flores (79%), resina (24%), charros/cigarros (25%), produtos comestíveis (15%), "E-líquidos" (12%), cristais (7%) e produtos cosméticos (7%).

Relativamente aos motivos para consumir estes produtos, 71% diz que é para reduzir o stress/relaxar, para melhorar o sono (51%), para tratar a ansiedade e depressão (38%), para experimentar (34%), para evitar ou reduzir o consumo de cannabis ilegal (19%), para reduzir a dor/inflamação (18%), para se divertir (16%), para socializar (13%), para melhorar o desempenho na escola, no desporto ou no trabalho (12%) e para tratar sintomas de privação de cannabis (9%).

O inquérito online europeu sobre drogas tem como objectivo aprofundar o conhecimento sobre os padrões de utilização de drogas ilícitas, visando a melhor adequação das políticas públicas. Resultados anteriores do mesmo estudo mostraram que o perfil do consumidor-tipo de cocaína em Portugal é semelhante: são sobretudo homens, entre os 25 e os 34 anos, com formação no ensino superior completa e a trabalhar a tempo inteiro por conta de outrem.

Um outro estudo, do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT), realizado entre Março e Abril de 2021, junto de cerca de 50 mil pessoas com mais de 18 anos, em 30 países, mostrou também que a pandemia fez diminuir o uso de ecstasy, mas aumentou o de cannabis. Os motivos apontados pelos utilizadores foram: para “ajudar a relaxar” e a dormir melhor, além de para “ficar pedrado”.