Redacção do DN discute futuro do jornal após saída de mais quatro jornalistas

Global Media despediu mais quatro jornalistas do Diário de Notícias sob o argumento de reduzir os “custos fixos” da empresa.

Foto
Antigo edifício do jornal Diário de Notícias, na Avenida da Liberdade, em Lisboa Jose Sarmento Matos

A redacção do Diário de Notícias reuniu-se na tarde desta quarta-feira para debater o futuro do jornal, face ao recente anúncio de saída de mais quatro jornalistas, confirmou à Lusa fonte sindical do título da Global Media (GMG).

Os últimos profissionais a deixar o jornal foram grandes repórteres e um gráfico, sob o argumento de reduzir os “custos fixos”, disse a delegada sindical do Diário de Notícias (DN), Valentina Marcelino, quando contactada pela Lusa sobre o assunto. A Lusa questionou a administração da GMG sobre este tema, mas até ao momento não obteve resposta.

Em 2008, o DN contava com mais de 60 jornalistas. Em 2023, e três despedimentos colectivos depois, o último dos quais em 2020, rondam os 30: a redacção conta com 18 jornalistas, dos quais quatro juniores, mais três directores e nove editores.

“Perante o que nos foi dado a conhecer, vamos ouvir o que a redacção nos tem para dizer” e “recordar alguns momentos e decisões tomadas nos últimos anos que têm tido como resultado, plano atrás de plano, mais cortes para o Diário de Noticias”, afirmou a delegada sindical.

“Em tudo aquilo que é o coração deste grupo, que devia ser o jornalismo, há um desinvestimento evidente e o Diário Notícias tem neste momento uma redacção reduzida ao impossível” para um título diário em papel e com edição online, disse Valentina Marcelino. "Em qualquer plano que apareça, a solução que é apresentada pela administração é cortar nos jornalistas ou nas pessoas que fazem o jornal, como gráficos, paginadores e infográficos”.

“A questão que se coloca é o que pensa a administração que o DN deve ser, pergunta à qual nunca nos respondeu. O presidente do Conselho de Administração garantiu-nos que queria apostar no ‘jornalismo de excelência’, mas aquilo a que assistimos é ao caminho contrário. Todos daremos sempre o nosso melhor mas, no meu entender, com estes meios, é uma exigência difícil de cumprir”, salientou Valentina Marcelino.

Isto porque “não há capacidade para fazer isso ao nível que consideramos que o Diário de Notícias deve ser. É isso que devemos aos nossos leitores, é essa a nossa responsabilidade para com um jornal com uma história de 158 anos”, rematou a delegada sindical.

No sábado, num comunicado do Conselho de Redacção (CR) e das delegadas sindicais do jornal, foi dado conta que a directora do DN tinha informado da decisão da administração da GMG de abrir processos de negociação para a saída de quatro jornalistas e um gráfico. “A maioria dos indicados não tinha manifestado interesse em aderir ao programa de rescisões voluntárias apresentado em Julho”, de acordo com o comunicado a que a Lusa teve acesso.

“Segundo a directora, a escolha dos nomes em causa foi da responsabilidade da administração. A direcção, no seu conjunto, considera que um jornal diário com a qualidade exigida a uma marca como o Diário de Notícias não se pode fazer com menos pessoas do que aquelas que compõem hoje a equipa, já de si curta para as solicitações de um diário impresso e online”, lê-se no documento.

De acordo com o CR e as delegadas sindicais, “a administração – que alega, para justificar as saídas, a necessidade de cortar nos custos fixos do jornal em face dos resultados negativos do ano passado – proibiu ainda substituições/novas contratações". Actualmente, o DN — incluindo direcção, jornalistas, gráficos e digitalizadores — tem 36 pessoas.

“Nos últimos anos, o jornal foi, no grupo Global Media, o mais atingido pelos processos de despedimento colectivo, o último dos quais ocorreu em 2020. Nessa altura, foi garantido pela administração que não haveria mais despedimentos, e foi até prometido que a redacção viria a ser reforçada com novas contratações que permitissem manter o nível de experiência e qualidade necessários num jornal de referência. Não só essa promessa não foi honrada, como o número de trabalhadores agora indicados pela administração para saída, todos seniores, corresponde a mais de 10% da actual redacção. No que respeita a jornalistas, excluindo editores e directores, trata-se de um corte de quase 25% no efectivo”, refere o comunicado.

O CR recorda ainda que a decisão da administração “surge na mesma semana em que é noticiado que o DN, cujo arquivo foi classificado pelo Governo como Tesouro Nacional, ‘terminou o último mês de 2022 com mais de 2,1 milhões de leitores online'”, referindo ainda que, tendo sido consultados os delegados sindicais das outras publicações do grupo, estes “disseram desconhecer a existência de listas de pessoas para ‘negociar saída'”.

Face a isto, “o CR e as delegadas sindicais só podem exprimir a sua firme oposição ao anúncio de ‘processos de negociação para saída’ com quem não expressou o desejo de sair, solidarizando-se com todos os camaradas que foram colocados nessa situação e voltam a solicitar à administração que explicite qual o seu projecto para o DN”. Na sequência deste comunicado, foi proposta a reunião para esta terça-feira às 16h.