Green Cloud: a sustentabilidade mora aqui

Mais do que uma mera tendência, a Green Cloud é a resposta para as organizações que querem adoptar a cloud, mas com o mínimo impacto ambiental possível. Pedro Miguel Cruz, da NTT DATA, explica como.

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Quando pensamos no impacto que algumas actividades têm em termos de sustentabilidade ambiental, raramente nos lembramos que o simples recurso a tecnologias de informação e comunicação (TIC) implica uma considerável pegada ecológica. Mas a verdade é que implica e não é pouco. De acordo com dados disponibilizados pelo Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia, as TIC consomem cerca de 5 a 9% de toda a electricidade produzida no mundo, e, só na União Europeia (UE), os centros de dados são responsáveis ​​por 2,7% do consumo de electricidade, valor que se estima que venha aumentar 28% até 2030. A relevância destes números é inquestionável, sobretudo numa altura em que todos - pessoas e organizações - têm de contribuir para que a UE atinja a meta das zero emissões até 2050. É precisamente aqui que a Green IT, em particular a Green Cloud (ou Cloud Verde), pode dar uma importante ajuda, como deixa claro em entrevista Pedro Miguel Cruz, Head of Cloud and Digital Architecture da NTT DATA Portugal.

É um facto que as empresas tecnológicas vivem actualmente um contexto de significativa pressão, devido à rápida e constante evolução, quer dos próprios recursos tecnológicos, quer dos mercados onde operam. Mas além desta pressão, acresce ainda outra, trazida pelos imperativos da sustentabilidade. Com efeito, se estes desafios não forem convenientemente abordados, é a própria sobrevivência das organizações que pode estar em risco, como refere Pedro Miguel Cruz: “A sustentabilidade tem de estar presente em todas as áreas de actuação e em qualquer empresa, não só nas de tecnologias de informação. Existem vários requisitos que as empresas têm de cumprir, sejam impostos pelas entidades reguladoras ou até pela UE, sendo que estes requisitos vão aumentar com o tempo e as empresas não podem arriscar-se a entrar em incumprimento.”

Por outro lado, além do impacto ambiental directo, lembra que “a sustentabilidade de um produto ou serviço já é considerado um factor na decisão do consumidor”. A somar a tudo isto, aponta ainda o problema da escassez de recursos humanos, “o que faz com que o talento disponível seja mais criterioso na selecção das oportunidades profissionais, não só numa perspectiva de carreira e remuneração, mas também ao nível dos valores que uma organização defende”, o que significa que “as empresas consideradas sustentáveis têm claramente um factor diferenciador de atracção e retenção de talento”, salienta.

Tech4Good: o que é a Green IT?

Uma das estratégias que contribui para tornar as empresas mais sustentáveis prende-se com o recurso à chamada Green IT (Tecnologia de Informação Verde), que mais não é do que a adopção de novas tecnologias e processos que ajudam a reduzir a pegada ambiental associada ao uso da tecnologia. Segundo Pedro Miguel Cruz, “o foco na eficiência energética é um dos principais factores da Green IT”. Como tal, “o uso de hardware e software com maior eficiência energética, a implementação de ferramentas e políticas de uso de energia e a migração dos servidores de uma infra-estrutura física para a Cloud, são práticas que tornam os processos mais eficientes e reduzem as emissões de carbono”, enumera.

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A Green Cloud pode eliminar um bilião de toneladas de emissão de CO2 até final de 2024, o que equivale à emissão de 218 milhões de carros num ano, o que demonstra o potencial impacto positivo desta prática” Pedro Miguel Cruz, Head of Cloud and Digital Architecture da NTT DATA Portugal

Outro aspecto crucial da Green IT passa pela monitorização das emissões resultantes do uso da tecnologia, área que o responsável vê como “um dos maiores desafios que as empresas vão enfrentar no curto prazo, porque este rastreamento não é fácil de realizar e as ferramentas para o fazer ainda não estão totalmente maduras”. Outras práticas que as empresas devem começar a adoptar para tornar mais verdes as suas áreas tecnológicas incluem ainda “o uso de energias renováveis para alimentar as infraestruturas tecnológicas e a reciclagem de produtos tecnológicos, como computadores ou servidores”.

Porquê uma Green Cloud?

Guiar os clientes nesta necessária “transformação sustentável” é o que a NTT DATA tem vindo a fazer, tendo criado para o efeito “um modelo de trabalho que permite aos seus clientes reduzir e tornar mais eficiente o consumo de recursos em todos os componentes de IT, quer seja em infra-estruturas de IT físicas ou baseadas na Cloud”, afirma. No que diz respeito à Cloud, o responsável explica que a empresa detém já “um conhecimento bastante avançado de implementação e desenvolvimento de práticas sustentáveis, comparativamente ao que oferecem hoje as empresas no mercado”.

A reforçar a relevância da opção pela Green Cloud, como contributo para a sustentabilidade das organizações, Pedro Miguel Cruz cita dados de um estudo do International Data Center, indicando que “a Green Cloud pode eliminar um bilião de toneladas de emissão de CO2 até final de 2024, o que equivale à emissão de 218 milhões de carros num ano, o que demonstra o potencial impacto positivo desta prática”.

Mas como é que a Green Cloud contribui, de facto, para a diminuição da pegada de carbono das empresas? Segundo Pedro Miguel Cruz, “o crescimento exponencial da oferta de serviços baseados em cloud computing gera um aumento bastante significativo do consumo de energia dos centros de dados das empresas que os fornecem”. Além disso, sabe-se que “os maiores prestadores de serviços Cloud, como a Amazon Web Services, a Microsoft e a Google, desenvolveram um modelo de responsabilidade partilhada em que o prestador de serviços tem responsabilidade sobre a sustentabilidade da infra-estrutura dos centros de dados, enquanto os clientes assumem o papel de configurar e utilizar as aplicações e ferramentas utilizadas em Cloud, de uma forma eficaz e sustentável”. Foi, portanto, a partir deste modelo que “a NTT DATA definiu quais são as melhores práticas que os clientes devem utilizar quando trabalham num ambiente Cloud”, refere, e é esse conhecimento que é partilhado, para que os clientes consigam melhores resultados em termos de impacto ambiental.

Primeiro passo: medir emissões

Questionado sobre os procedimentos que podem e devem ser já levados a cabo pelas empresas preocupadas com a sustentabilidade, o responsável destaca que “o primeiro passo consiste em começar a medir as suas emissões de carbono”, embora, como referido antes, esta seja a etapa “onde vão encontrar mais obstáculos, porque muitas vezes esta informação é difícil de obter e há pouco conhecimento sobre quais são os indicadores e métricas a considerar”. Depois de obterem este dado e de saberem a quantidade de energia que os seus recursos de IT consomem, “podem criar um plano e medidas de controlo para tornar o seu consumo mais eficiente”, acrescenta.

Quanto ao ponto em que se encontram, neste momento, as empresas portuguesas no que diz respeito a esta transformação imperativa, considera que “as empresas no geral ainda estão pouco maduras no que toca à adopção de processos que visem tornar-se mais sustentáveis”. Ainda assim, frisa que “a Green Cloud faz a diferença em qualquer sector de actividade”, sendo que “o impacto é maior em empresas em que as áreas de IT são maiores”, além de que “empresas que tenham os seus recursos e aplicações baseados em Cloud podem beneficiar muito da adopção de ferramentas e práticas da Green Cloud”, sublinha.