O Faial não desilude: uma fuga de 48h
A leitora Ana Cebola Poeiras decidiu oferecer-se uma escapadela à ilha açoriana do Faial. Descobriu maravilhas e voltou encantada e com boas sugestões.
A imensidão do oceano, a chuva que deu tréguas, a caldeira que tem vida e as fajãs que não descansam. E, claro, os Capelinhos. Para sempre os Capelinhos. Tudo isto em 48h. “48h não vão dar para nada! E vais sozinha? Mas porquê?”. Foram estas as perguntas e os comentários dos queridos que ficaram em casa, a acompanhar no Instagram a viagem-relâmpago mas com tanto potencial que foram os Capelinhos. Perdão, o Faial.
Voo directo, aeroporto pequeno, mochila pequena e capacete de bicicleta (sim, é uma mania, viajar com o capacete não se vá dar o caso de pensar em alugar) e lá vou eu apanhar um táxi para a Horta. Tudo rápido e cirúrgico, para não se perder mais tempo com logística.
A primeira paragem foi no Peter's, o famoso, que não precisa de apresentação e está em todos os guias, e que por acaso tem bicicletas para alugar. Mas fica para a próxima. Check-in feito, e automaticamente, sem mochila e com marcha apressada, quase passei por faialense. A baía de Porto Pim foi a primeira interjeição! Mas que maravilha, a água, a paisagem, o sol e o Pico! O Pico, ali, calmo e avassalador, atractivo, com contornos definidos e marcando presença em muitos cantos da ilha, como quem convida a subir. Deu para fazer um pequeno trilho, o Entre Montes - Faial, visitar a capela de nossa Senhora da Guia, e, no regresso observar as várias tendas de venda de tours por água e por terra.
Após muito ponderar, resolvi arriscar num passeio para o dia seguinte, era a forma mais eficaz de conhecer a ilha, uma vez que a iríamos contornar, e já só restavam pouco mais de 36 horas. Uma portuguesa, uma alemã e um suíço, e ficou o grupo formado! Pelas 8h do dia seguinte já estavam à minha espera, e juro que fui pontual, mas antes ainda assisti ao nascer do sol na marina da Horta, com o Pico, mais uma vez, em pano de fundo! Avassalador!
A Caldeira foi um dos primeiros pontos de paragem. O nevoeiro era tanto que me fez os olhos marejados, de alguma emoção. Ao mesmo tempo que desvanecia comecei a escrever sobre o verde que observava, para as memórias fazerem mais jus do que as próprias imagens. Para a próxima venho contornar a caldeira, foi o último pensamento, o que me fez dar razão ao “48h não vão dar para nada!”
Mas continuámos. Fomos às fajãs do Norte, zona mais inóspita da ilha, onde a água varre as pedras e não se aconselha a estar no Inverno, e seguimos para os Capelinhos. O mote da viagem. A paisagem lunar, a arquitectura associada e toda a ciência basilar foram a conjugação perfeita para a decisão das 48h. Mudar de área, estudar geologia, viver da vulcanologia. Foi o pequeno devaneio que rapidamente se formou, mas com pouco sucesso. O Centro Interpretativo do Vulcão, de arquitectura fotogénica, de traços amplos, enquadrado e despercebido na paisagem, faz-nos pensar ser fácil construir algo assim, mas de fácil nada tem. Ficava ali a contemplar cada pedaço de solo, de magma, mas os colegas estavam à espera, tive a sensação de que estavam sempre à espera, que demorava tempo de mais a absorver cada momento de paisagem…e de tempo. O tempo que não tinha.
No dia seguinte não faltou uma visita ao museu da cidade, e um almoço no fantástico Genuíno, onde as lapas serviram de despedida da Horta e da baía de Porto Pim. Quer sejam dois dias, quer seja uma semana, garanto que o Faial não desilude. Não liguem ao que vos dizem, convidem-nos a irem convosco. Foi uma verdadeira fuga de 48h.
Ana Cebola Poeiras (texto e fotos)