Estarreja viaja pela história da literatura de gastronomia portuguesa

Exposição reúne quase três dezenas de livros, entre eles exemplares de 1693 e de 1785. A partir de 14 de Janeiro , no âmbito do IV Capítulo da Confraria Gastronómica de Santo Amaro, até final do mês.

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O "Livro de Pantagruel", de Bertha Rosa-Limpo, é o livro de gastronomia português mais vendido de sempre DR

São 26 títulos, onde se incluem algumas preciosidades e primeiras edições, mas sem esquecer os autores da terra, como David Lopes Ramos, jornalista e crítico do PÚBLICO falecido em 2011. A Confraria Gastronómica de Santo Amaro leva aos Paços do Concelho de Estarreja, a partir de dia 14 e ao longo do mês, uma exposição de livros portugueses de gastronomia, seleccionados a partir da biblioteca de Marco Pereira, historiador que é, simultaneamente, confrade. O leque de obras expostas incluirá os dois mais antigos livros de gastronomia portugueses: a Arte de Cozinha, de Domingos Rodrigues, e o Cozinheiro Moderno, de Lucas Rigaud.

No que à obra Arte de Cozinha diz respeito, será apresentado “um exemplar da terceira edição, de 1693”, assim como uma “edição contemporânea”, de 2017, destaca Marco Pereira, a propósito daquele que é o mais antigo livro de cozinha publicado em Portugal - da autoria do cozinheiro do rei D. Pedro II, saiu da tipografia pela primeira vez em 1680. “A primeira edição é raríssima, não se conhecendo em Portugal nenhum exemplar”, repara o historiador. Já do título Cozinheiro Moderno - que foi o segundo livro de cozinha publicado em Portugal e pretendeu “corrigir os erros” de Arte de Cozinha - será apresentada uma segunda edição, de 1785.

Esta viagem no tempo através da literatura de gastronomia portuguesa compreende ainda uma passagem pelo século XIX, através dos livros O Cozinheiro dos Cozinheiros, de Paul Plantier, e Arte de Cozinha, de João da Matta - em ambos os casos serão apresentados exemplares da primeira edição, de 1870 e 1876, respectivamente.

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"Arte de cozinha devidida em tres partes...", de Domingos Rodrigues, 1693 dr

O primeiro reúne “mais de 1500 receitas usuais, fáceis e económicas”, acrescentando “outras informações sobre apresentação da mesa e de serviço, vinhos em jantares com vários pratos, etc., e traz, além do índice, um dicionário dos termos usuais de cozinha e de copa”.

O segundo foi escrito por aquele que foi “chef e proprietário do Grand Hotel du Matta” e “dedicou ao amigo e poeta Bulhão Pato a receita de amêijoas hoje muito conhecida”, vinca Marco Pereira.

Mais extensa é a lista de títulos do século XX, com destaque para o livro de gastronomia português mais vendido de sempre, O Livro de Pantagruel, de Bertha Rosa-Limpo, de 1945. Incontornável é também o nome de Maria de Lourdes Modesto, que será recordada através de uma primeira edição do seu Cozinha Tradicional Portuguesa (1982) e de Doze meses de cozinha, publicado pelas Selecções do Reader’s Digest (1975).

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"Cozinheiro Moderno ou a Nova Arte de Cozinhar" de Lucas Rigaud teve primeira edição em 1780 dr

Gastronomia regional e autores da terra

Sendo organizada a partir da colecção particular do confrade e historiador natural de Estarreja, a mostra também reserva algum espaço para a gastronomia regional, assim como para os autores daquele concelho da região de Aveiro. É o caso de António Madureira, de Álvaro Garrido, assim como de David Lopes Ramos. O jornalista irá recordado através das páginas de Sabores da lusofonia… com selos, editado pelos CTT Correios de Portugal, em 2009, juntamente com as suas colaborações nas obras Rotas da gastronomia e vinhos e O design da pastelaria semi-industrial portuguesa.

A mostra surge integrada no IV Capítulo da Confraria Gastronómica de Santo Amaro, comprovando que a existência das confrarias não se esgota na realização de encontros gastronómicos. “Há também uma importante componente cultural”, vinca Marco Pereira, que assume a presidência da confraria criada a 15 de Janeiro de 2018 com o objectivo de valorizar a gastronomia do concelho de Estarreja, em particular a carne da vaca assada que em tempos idos se comia na Feira de Santo Amaro daquele concelho - teve especial relevância para a região, nomeadamente nas transacções de gado (em particular o bovino) e mercadorias.

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