Maioria dos sintomas da covid longa em casos leves pode desaparecer após um ano

Pessoas vacinadas contra a covid têm um menor risco de ficarem com dificuldades respiratórias ao longo do tempo relativamente a não vacinados.

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Estudo envolveu dados de cerca de dois milhões de pessoas Daniel Rocha

A maioria dos sintomas associados a uma forma prolongada, mas leve, de covid-19 tende a desaparecer durante o ano seguinte à infecção, refere um estudo científico publicado esta semana.

A maioria dos sintomas que se desenvolvem após uma infecção leve por covid-19 persistem durante vários meses, mas voltam ao normal num ano”, destacam os autores do estudo israelita publicado na revista científica British Medical Journal (BMJ). A covid longa caracteriza-se pela persistência de sintomas após a infecção, ou pelo aparecimento de novos sintomas mais de quatro semanas após uma infecção inicial.

Ao PÚBLICO, os autores explicaram por email que os doentes que têm uma forma ligeira de covid têm um risco menor de ficar com menos impactos na sua saúde, nomeadamente com menos sintomas a persistirem um ano após a infecção pelo vírus que causa a covid, o SARS-CoV-2. Ao longo do tempo, esse risco vai sempre diminuindo.

Maytal Bivas-Benita, investigadora do Instituto Israelita de Investigação KI e co-autora do estudo, destacou à agência AFP que ficou “encorajada” pelos resultados, num contexto em que existem receios sobre a duração dos sintomas. “A grande maioria dos pacientes ficará bem depois de um ano, e acho que isso é uma boa notícia”, realçou.

Os resultados da investigação mostram ainda que “as pessoas vacinadas estiveram menos expostas ao risco de dificuldades respiratórias – o efeito mais frequente observado em caso de doença ligeira – do que as pessoas não vacinadas”, sublinhou a investigadora. Concretamente, as pessoas vacinadas têm um menor risco de dispneia e um risco semelhante nos outros efeitos e sintomas persistentes relativamente às pessoas que não tinham sido vacinadas.

Apenas pequenas diferenças foram observadas no estudo entre pacientes do sexo masculino e feminino. Em contraste, as crianças desenvolveram menos efeitos do que os adultos durante a fase inicial da covid-19, sintomas que desapareceram na maioria no final do período. “As crianças sentem menos o impacto da covid e a maioria dos efeitos resolvem-se ao longo do tempo”, assinala ao PÚBLICO Barak Mizrahi, também investigador do instituto israelita. Embora o estudo só tenha abrangido os vírus até Outubro 2021 e não se ter tido em conta as subvariantes que estão a ganhar mais peso, os efeitos das variantes genéticas do vírus analisadas eram semelhantes em todas as que foram analisadas.

Duradoura em algumas pessoas

“Estes resultados sugerem que, embora o fenómeno da covid-19 longa seja temido e discutido desde o início da pandemia, a grande maioria dos casos de infecção leve não sofre de sintomas graves ou crónicos a longo prazo”, apontam os investigadores.

O estudo foi realizado com base em registos electrónicos do segundo maior fundo de seguro de saúde de Israel, Maccabi Healthcare Services, dos quais quase dois milhões de membros foram testados para a covid-19 entre 1 de Março de 2020 e 1 de Outubro de 2021. Este é um dos maiores estudos publicados sobre covid longa de pessoas que tinham tido uma forma leva de covid.

Mesmo assim, Barak Mizrahi pede cautela quanto às extrapolações que possam ser feitas relativamente às conclusões do trabalho. Primeiro, não foram tidos em conta casos graves de covid longa nem pessoas que foram hospitalizadas. Depois, o investigador chama a atenção de que os sintomas na covid longa “não desaparecem todos um ano depois”, mas que parte desses sintomas diminui em pouco tempo.

“Não estamos a dizer que não há doentes que sofrem de sintomas de covid longa, como a dispneia, fraqueza ou défice cognitivo”, diz-nos Barak Mizrahi. “Na análise de registos electrónicos da saúde [que envolveu quase dois milhões de pessoas], verificámos que a grande maioria não tinha sintomas de covid longa, o que não contradiz a informação de que um pequeno número de doentes não sofra de sintomas persistentes ao longo do tempo.”