Filandorra coloca cruzes em Vila Real em protesto contra falta de apoio

Apesar de uma classificação de 74,02%, companhia de teatro Filandorra foi excluída do apoio financeiro da DGArtes e de Vila Real juntou-se simbolicamente aos protestos frente ao Parlamento.

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Companhia de teatro Filandorra coloca cruzes a simbolizar um "cemitério de cultura" em frente ao Tribunal de Vila Real PEDRO SARMENTO COSTA/LUSA
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A Filandorra juntou-se ao "Protesto pelas Artes" que, à mesma hora, decorria junto ao Parlamento em Lisboa PEDRO SARMENTO COSTA/LUSA

Cruzes a simbolizar um "cemitério de cultura" em Trás-os-Montes foram esta quarta-feira colocadas pela companhia de teatro Filandorra em frente ao Tribunal de Vila Real, em protesto contra a exclusão da companhia dos apoios sustentados da Direcção-Geral das Artes (DGArtes).

O palco para o protesto foi o anfiteatro ao ar livre, localizado em frente ao Tribunal de Vila Real, onde foram colocadas 13 cruzes a simbolizar os 13 projectos que a Filandorra poderá não concretizar por não ter o apoio financeiro da DGArtes, apesar de ter tido uma classificação de 74,02%.

"É um cemitério de cultura em Trás-os-Montes. São todas a produções dos autores que estão no nosso quadriénio, na candidatura, e que metaforicamente estão sepultados na relva verde, mas em frente a um tribunal. Esta imagem apela ao bom sentido de honra da justiça de Trás-os-Montes", afirmou o director da companhia de teatro, David Carvalho.

Este, acrescentou, também poderá significar "o acto final da luta" que esta quarta-feira se inicia e que poderá acabar no Tribunal Administrativo.

A partir da cidade transmontana, a Filandorra juntou-se ao "Protesto pelas Artes" que, à mesma hora, decorria junto à Assembleia da República, em Lisboa, antes da audição parlamentar do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.

"É óbvio que será difícil, apesar de termos uma boa rectaguarda e estarmos bem institucionalizados na região. Estão ali trabalhadores efectivos e metade terá de ir para o desemprego e o Estado vai gastar mais", afirmou o responsável. Entre elenco, técnicos, produção e direcção artística, a companhia de teatro conta com 18 elementos, 11 dos quais efectivos, e trabalha há 37 anos, contando com parcerias de 20 autarquias da região Norte que garantem 50% do apoio financeiro ao projecto.

A actriz Débora Ribeiro, 34 anos, disse temer pelo seu futuro se a companhia tiver de dispensar trabalhadores. "Este momento já começa a ser repetitivo há alguns anos. Já cá estou há 12 anos e parece que, de quatro em quatro anos, uma pessoa precisa de lutar pelos seus direitos e é angustiante", salientou.

Para o actor Silvano Magalhães, 35 anos, "caso não haja uma solução para esta calamidade por parte do Governo", poderá estar em risco "o elenco da companhia".

Para além dos postos de trabalho, Silvano Magalhães disse que poderão estar em causa também "vários projectos" que poderiam vir a ser concretizados e "várias digressões por Trás-os-Montes e o Norte de Portugal". "Para além da perda de actores na companhia, pode haver a perda de cultura", frisou. "Nós levamos o teatro onde raras companhias levam os seus espectáculos e chegamos ao ponto de, se calhar, estas pessoas irem perder cultura. Eu perco o meu local de trabalho e as pessoas perdem cultura", reforçou Débora Ribeiro.

"Os concursos da DGArtes estão falseados porque têm vícios de forma", frisou David Carvalho, lembrando que a Filandorra já antes ganhou no Tribunal Administrativo, pela mesma situação de exclusão de apoios, num processo que demorou "sete anos e meio a resolver".

Em 2022, a companhia estreou três produções, contando com a parceria dos municípios de Vila Real, Amarante, Mesão Frio, Vila Pouca de Aguiar, Montalegre, Murça, Carrazeda de Ansiães, Vila Flor, Vila Nova de Foz Côa, Vinhais, Miranda do Douro, Freixo de Espada à Cinta, Penedono, São João da Pesqueira, Sabrosa, Cinfães, Resende, Valpaços, Santa Marta de Penaguião e Lamego.

A Câmara de Vila Real divulgou uma declaração de apoio à Filandorra, manifestando o seu descontentamento com a exclusão dos apoios e pedindo ao Ministério da Cultura para "encontrar formas de manter o apoio".

"Não se defende a coesão nacional aumentando a diferença entre o número de projectos artísticos apoiados no Litoral e no Interior", salientou o município, que defendeu que a companhia "dá um forte contributo para a preservação e promoção da identidade cultural" da região e para a "actividade económica e turística, com acções de animação teatral associados a eventos nessas áreas".

A Filandorra foi uma de sete estruturas excluídas na modalidade quadrienal do Programa de Apoio Sustentado da DGArtes, na área do Teatro, na qual 48 foram apoiadas.

As sete candidaturas não apoiadas nos apoios quadrienais do Teatro obtiveram classificações acima de 60%, estando cinco sediadas no Norte, uma no Alentejo e outra no Algarve.