“Devemos ter alguma paciência” quanto à subida dos juros dos depósitos, diz Centeno
“Temos mesmo de acreditar que nos estamos a aproximar do final deste processo de aumento de taxas de juro” do BCE, afirma o governador do BdP.
O governador do Banco de Portugal defendeu esta terça-feira que existem alguns sinais de aumento das taxas de juro de depósitos por parte dos bancos, mas ainda em dimensão insuficiente. "Devemos ter alguma paciência", disse Mário Centeno, que falava no Parlamento, onde lembrou que os bancos tiveram de rever os seus planos de negócios quando as taxas de juro eram negativas.
"É verdade" que as taxas de juro dos depósitos têm de acompanhar o movimento de subida das taxas de referência do Banco Central Europeu (BCE) que estão em escalada desde o Verão do ano passado, disse o governador, acrescentado que já há instituições financeiras a remunerar os novos depósitos com taxas acima de 1%, mas considerando que esta correcção ainda não está a ser feita numa "dimensão suficiente".
Centeno respondia às perguntas colocadas por deputados de vários partidos que mostraram preocupação com o facto de os bancos terem seguido o movimento do BCE nos juros que cobram pelos empréstimos, mas não o terem feito no que toca à remuneração das poupanças, nomeadamente, nos depósitos.
Apesar de ter considerado insuficiente a subida das taxas de juro dos depósitos, o governador ressalvou que os bancos tiveram de ajustar os seus planos de negócios quando as taxas de juro eram negativas. "Devemos ter alguma paciência", afirmou.
O ex-ministro das Finanças chamou a atenção para os planos de negócios da banca, defendeu que os bancos não podem passar pelas dificuldades que passaram há pouco tempo. Centeno disse compreender "a dimensão social" da preocupação com o peso das comissões, mas não demonstrou iniciativa por parte do Banco de Portugal para que os bancos limitem as comissões. "Acompanharemos tão próximo, também da Assembleia, quanto for necessário", disse.
Centeno, que tem assento no conselho de governadores do BCE que decide sobre o custo de financiamento dos bancos, defendeu que a autoridade monetária sediada em Frankfurt tinha de começar o processo de subida de taxas de juro, mas antecipou que esta fase poderá estar mais perto do fim. No entanto, não afastou que ainda possam ocorrer novas subidas, uma mensagem em linha com a que foi transmitida pelo BCE na última decisão tomada a meio de Dezembro do ano passado.
"A incerteza em torno da redução da inflação é mais nociva do que a própria subida das taxas de juro que estamos a observar, mas eu acho que temos de pôr fim às duas. E temos mesmo de acreditar que nos estamos a aproximar do final deste processo de aumento de taxas de juro. Estou mesmo em crer que isso é verdade", disse.
No entanto, avisou para as resistências da redução da inflação em Janeiro e Fevereiro. Isto porque, o arranque do ano é marcado por aumentos de preços administrativos que são influenciados por taxas de inflação homólogas, ou seja, evoluções de preços mais centradas no que se passou no ano anterior. "O processo [de abrandamento da inflação] continuará a partir de Março", espera.
A meio de Dezembro, o BCE subiu as taxas de juro em mais 0,5 pontos percentuais, de 2% para 2,5% no refinanciamento e de 1,5% para 2% nos depósitos.
O governador do Banco de Portugal disse ainda aos deputados que a instituição seguirá ao "detalhe” a aplicação do decreto-lei do Governo com as regras que mitigam o impacto do aumento das taxas de juro nos empréstimos à habitação, e que o PS quer ajustar.
Perante as preocupações de deputados, Centeno garantiu que “não há nenhuma inevitabilidade” na lei para que o cliente fique marcado no sistema como tendo renegociado o crédito, um facto que de outra forma o poderia prejudicar nas suas relações bancárias no futuro.
Apesar desta luz ao fundo do túnel quanto ao sentido da trajectória da subida dos juros, o governador avisou que as previsões de inflação têm um horizonte de médio prazo para regressar aos valores considerados como meta para o BCE, ou seja, uma inflação perto dos 2%.
O governador do Banco de Portugal voltou a afastar o cenário de recessão e explicou por que razão insiste no investimento. "Temos mais emprego do que alguma vez tivemos em Portugal", disse, acrescentando: "Estamos num momento provavelmente de esgotamento deste processo. Daí a minha insistência no investimento."