O que aconteceu em Brasília? Nove perguntas e respostas sobre a invasão às sedes dos três poderes

Invasão começou depois de militantes de extrema-direita convocarem protesto para a sede dos três poderes em Brasília. Pelo menos 1500 manifestantes foram detidos.

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Apoiantes de Jair Bolsonaro invadiram a Praça dos Três Poderes neste domingo Reuters/ADRIANO MACHADO
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Centenas de apoiantes de Jair Bolsonaro, ex-Presidente do Brasil, invadiram os três edifícios mais importantes e simbólicos do poder em Brasília neste domingo. Os manifestantes, que furaram as barreiras de protecção da polícia, pediam uma intervenção militar para derrubar o Presidente Lula da Silva. O que desencadeou a invasão? Quantos manifestantes estavam presentes? E como conseguiram passar pelas forças policias? O PÚBLICO reuniu uma lista de perguntas e respostas sobre a invasão deste domingo.

O que aconteceu no domingo em Brasília?

Durante a tarde de domingo, centenas de manifestantes concentraram-se junto à Praça dos Três Poderes, em Brasília, e invadiram o Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal, os três edifícios mais importantes do poder da capital brasileira.

Pouco antes das 15h (18h em Portugal continental), a Polícia Militar já tentava travar o avanço dos manifestantes com gás lacrimogéneo, que diziam querer "tomar os três poderes" para "salvar o Brasil do comunismo". Mesmo com a ameaça e o risco da escalada, a Polícia Federal do Distrito Federal tinha poucos elementos. A Força de Segurança Nacional também contava com apenas 140 integrantes. Os agentes foram incapazes de controlar os invasores.

O que desencadeou esta invasão?

Desde o início de Novembro que, um pouco por todo o Brasil, decorriam manifestações de apoiantes de Bolsonaro, que recusam a vitória de Lula da Silva — que tomou posse no passado domingo — e pediam a intervenção do Exército para tomar o poder no país. Neste domingo, mais de cem autocarros chegaram a Brasília, transportando centenas de manifestantes. Em muitos deles, as pessoas não tiveram de pagar a viagem ou a alimentação, detalharam as autoridades.

O Governo Lula da Silva prometeu desmobilizar os acampamentos montados por apoiantes do ex-Presidente em frente aos quartéis do Exército em várias capitais brasileiras, nomeadamente em Brasília. Na passada quarta-feira, o ministro da Justiça, Flávio Dino, garantiu que "até sexta-feira", 6 de Janeiro, as mobilizações antidemocráticas seriam resolvidas, o que não chegou a concretizar-se.

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Quantas pessoas estavam presentes?

Não se sabe ao certo. A agência Lusa cita informações de que cerca de quatro mil bolsonaristas chegaram a Brasília para este acto, convocados nas redes sociais por grupos de extrema-direita. O número total de manifestantes deverá ser muito superior, uma vez que centenas de apoiantes de Bolsonaro já tinham chegado à capital antes de domingo.

O que fizeram os manifestantes quando entraram nos edifícios?

Imagens publicadas nas redes sociais mostravam manifestantes vestidos de verde e amarelo, com a bandeira brasileira e a t-shirt da selecção nacional, símbolos adoptados pelos apoiantes de Jair Bolsonaro, a entrar na sala principal de audiências do Supremo Tribunal Federal e a partir vidros, mesas, portas e janelas. Há ainda imagens dos invasores a vandalizar o salão verde do Congresso e o interior e exterior do Palácio do Planalto. Além disso, os manifestantes pilharam uma série de objectos das três sedes de poder vandalizadas, entre estes pinturas, brasões, cadeiras, portas, mobiliário, vitrais, vitrinas e armas de fogo.

Os bolsonaristas danificaram importantes obras de arte da cultura brasileira. Uma delas foi Araguaia, vitral da artista franco-brasileira Marianne Peretti, de 1977, que fica no salão verde da Câmara dos Deputados. No Planalto, a tela Mulatas, pintada em 1962 por Di Cavalcanti, foi furada pelos manifestantes.

Vários fotógrafos e repórteres foram agredidos nas acções violentas de domingo. Vários jornalistas de televisões também denunciaram o roubo dos seus equipamentos de trabalho e disseram ter sofrido ataques durante as violentas manifestações. Entre eles, uma fotojornalista do site Metrópoles foi agredida a socos e pontapés por dez homens, que roubaram as câmaras, segundo outro jornalista desse meio de comunicação.

A polícia conseguiu controlar os manifestantes?

Sim. Por volta das 21h em Portugal (18h em Brasília), os efectivos de segurança do Supremo Tribunal Federal (STF) e as tropas de choque da Polícia Militar do Distrito Federal conseguiram recuperar o controlo da sede do tribunal.

O que não se sabe, para já, é como é que as forças policiais do Distrito Federal e as autoridades do Governo federal permitiram que milhares de pessoas se tenham organizado para invadir e passar cinco horas dentro de edifícios que deveriam ser alguns dos mais bem guardados do Brasil.

Como reagiu o Governo brasileiro?

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, decretou intervenção federal na segurança do Distrito Federal até 31 de Janeiro, que a Câmara dos Deputados do Brasil já aprovou. A medida significava que as forças federais podiam ser usadas para reforçar a segurança de Brasília, sede do governo brasileiro. Lula prometeu ainda que será levada a cabo uma investigação aprofundada e será encontrado “quem pagou autocarros, estadia, churrascos” às pessoas que foram até Brasília. “Também da parte do governo federal, se descobrirmos que houve omissão, [isso] também será punido”, declarou.

Lula da Silva fez ainda uma visita, na noite de domingo, aos três edifícios para ver os estragos provocados pelos manifestantes e garantiu que serão investigados os financiadores dos acampamentos montados em frente a quartéis em todo o país, que foram desmontados por ordem da Justiça nesta segunda-feira depois de mais de dois meses de mobilização contra o resultado eleitoral.

Na segunda-feira, Lula reuniu-se com os demais chefes de poderes atacados e também com os governadores dos Estados, em sinal de união contra os actos violentos contra a democracia brasileira. "Eles querem é golpe e golpe não vai ter", afirmou Lula.

Quantas pessoas foram detidas até agora?

O Presidente brasileiro diz que pelo menos 1500 pessoas foram detidas por suspeitas de crimes de vandalismo durante as invasões do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal. Algumas foram detidas em flagrante no domingo e outras durante esta segunda-feira, quando a polícia começou a desmontar o acampamento de apoiantes de Bolsonaro em Brasília. O Governo diz que se irá esforçar para investigar todos os envolvidos em actos de vandalismo.

Já houve demissões na sequência da invasão?

Sim. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, informou na tarde de domingo que demitiu o secretário de Segurança, Anderson Torres, nomeado recentemente secretário de Segurança do Distrito Federal. Torres, que está na Florida, nos Estados Unidos da América, mesmo estado em que se encontra Bolsonaro, é seu apoiante público e actuou como Ministro da Justiça até quase ao fim do mandato do ex-presidente.

Horas mais tarde, era Ibaneis Rocha a ser afastado do seu cargo por 90 dias pelo juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na decisão, Moraes avaliou que Ibaneis Rocha e Anderson Torres terão actuado com negligência. O ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Flávio Dino, disse que o governador do Distrito Federal decidiu não bloquear todos os acessos à Esplanada dos Ministérios, em Brasília, na sequência de um pedido do Governo brasileiro, o que permitiu o avanço dos manifestantes.

Qual a posição do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre os ataques?

Bolsonaro disse, no Twitter, que "manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia", mas que "depredações e invasões de prédios públicos" "fogem à regra" e negou as acusações de que teria incentivado seus partidários no ataque aos prédios dos três poderes. O ex-presidente viajou aos Estados Unidos no dia 31 de Dezembro, antes da posse de Lula.

Bolsonaro está internado desde segunda-feira num hospital de Orlando, no estado norte-americano da Florida, devido a “fortes dores abdominais” e a uma “obstrução intestinal grave”. À CNN Brasil, ele disse que pretende antecipar o seu regresso ao Brasil. Congressistas do Partido Democrata norte-americano pediram para que Bolsonaro seja expulso dos Estados Unidos por causa do alegado papel que desempenhou no ataque à sede do poder político e judicial brasileiro, que tem muitas semelhanças com a invasão do Capitólio, em 2021, por apoiantes de Donald Trump.

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