Covid-19: quase 90% dos habitantes da terceira província mais populosa da China foram infectados

Director da Comissão de Saúde de Henan informa que cerca 88 milhões de pessoas já tiveram covid-19, mas não revela quando. Governo só contabiliza 250 mil novos casos desde a reabertura, em Novembro.

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Política "covid zero", que agora chega ao fim, incluía grandes operações de testagem à população EPA/ALEX PLAVEVSKI

Um dia depois de o Governo chinês ter levantado oficialmente as restrições de viagem para o estrangeiro dos 1,4 mil milhões de cidadãos da República Popular da China, o director da Comissão de Saúde da terceira província mais populosa do país revelou que, “até ao dia 6 de Janeiro”, na passada sexta-feira, “a taxa de infecção com covid é de 89%” em Henan.

Fazendo as contas com os números divulgados por Kan Quancheng, cerca de 88,5 milhões dos 99,4 milhões de habitantes da província de Henan, localizada na zona mais oriental da região central da China, já tiveram covid-19.

O dirigente provincial do Partido Comunista Chinês (PCC) não esclareceu o período durante o qual ocorreram estas infecções, mas, citado pela AFP, informou que o pico de visitas hospitalares ocorreu a 19 de Dezembro, tendo-se verificado “uma tendência contínua decrescente” a partir dessa data.

Os números oficiais das autoridades sanitárias centrais chinesas referem apenas cerca de 250 mil novos casos de covid-19 desde que a política “covid zero” – uma das mais restritas do mundo, assente em confinamentos rigorosos e operações de testagem em grande escala – começou a ser desmantelada, em Novembro do ano passado.

Há, no entanto, epidemiologistas e especialistas de saúde internacionais que apontam para mais de 30 milhões de novos casos diários, e a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) já disse que os “números publicados pela China sub-representam o verdadeiro impacto da doença” no país.

Não só em termos de novos casos ou casos activos, diz a OMS, mas também “em termos de admissões hospitalares, de admissões em unidades de cuidados intensivos e, particularmente, em termos de mortes”.

Segundo os números oficiais, morreram 5272 pessoas com covid-19 desde o início da epidemia na China. Dessas, três morreram no domingo e uma no sábado.

Trata-se de números bastantes mais reduzidos dos que aqueles que os epidemiologistas previam, tendo em conta, para além do facto de se tratar do país mais populoso do mundo, que 55% da população chinesa não recebeu a terceira dose da vacina contra a covid-19 e que as vacinas Sinovac e Sinopharm, de produção nacional, são menos eficazes do que as vacinas com a tecnologia ARNm.

O PCC é, por isso, acusado por vários governos de “falta de transparência” na divulgação do número de doentes e mortos por covid-19 e de estar a esconder o cenário de sobrelotação e de caos nos hospitais, nas casas funerárias e nas farmácias que tem sido noticiado por vários meios de comunicação internacionais.

Nesta segunda-feira, a BBC dá conta de um outro caso recente em que os números divulgados pelas autoridades locais não encaixam na contabilização exibida por Pequim.

Um relatório divulgado na véspera de Natal por um responsável na área da Saúde do PCC de Quigdao (província de Shandong, na costa Leste) situava a taxa de infecção na região em meio milhão de novos casos por dia. Essa informação, diz a emissora britânica, foi omitida nos relatórios seguintes.

Estas incongruências nos números relacionados com a nova vaga de covid-19 na China – que começou a abandonar a política “covid zero” ao fim de três anos na sequência de protestos populares sem precedentes contra o partido único e contra o regime – surgem numa altura em que milhões de chineses já podem viajar para o estrangeiro, sem lhes ser exigida quarentena no regresso, apesar das restrições impostas por dezenas de países, incluindo Portugal.

E surgem também num período tradicional de grandes deslocações dentro da própria China, por ocasião de celebração do Ano Novo chinês, que este ano se comemora a 22 de Janeiro.

O fluxo de viagens internas associado a esta celebração é considerado a maior migração anual do mundo. De acordo com os números divulgados pelas autoridades chinesas, referidos pela AFP, a primeira vaga de viagens, no sábado, implicou a movimentação interna de 34,7 milhões de pessoas.

“A vida está novamente a seguir em frente”, celebrava um editorial publicado no domingo no Diário do Povo, jornal do PCC, citado pela Reuters. “Hoje, o vírus está fraco e nós estamos fortes.”

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