Chefe do grupo Wagner diz que quer Bakhmut pelas suas “cidades subterrâneas”
Para os Estados Unidos, as motivações de Yevgeny Prigozhin para conquistar a localidade ucraniana serão outras: ter acesso às minas por “razões comerciais”.
A insistência de forças russas, sobretudo do grupo Wagner, em tentar conquistar a cidade ucraniana de Bakhmut tem deixado interrogações entre analistas militares sobre o que levaria a este afinco na ofensiva nesta localidade, apesar do grande número de baixas sofridas.
Este fim-de-semana, o fundador do grupo, Yevgeny Prigozhin, disse, no canal no Telegram do seu serviço de imprensa, que as “cidades subterrâneas” de Bakhmut seriam uma grande vantagem militar para a Rússia já que poderiam albergar soldados e equipamento, incluindo veículos blindados pesados.
“A cereja em cima do bolo [da conquista da cidade] é o sistema das minas de Soledar e Bakhmut, que é na verdade uma rede de cidades subterrâneas”, declarou Prigozhin, citado pela agência Reuters. O complexo de mais de 160 km de túneis, e onde existe um espaço que, em anos anteriores, chegou a ser usado para jogos de futebol ou concertos de música clássica, tem capacidade para acolher um “grande grupo de pessoas a uma profundidade de 80 a 100 metros, mas também carros de combate e veículos de infantaria”, salientou.
O chefe do grupo Wagner disse ainda que desde a Primeira Guerra Mundial o local era ainda usado para guardar armas.
Bakhmut foi, em 2014, conquistada pelos separatistas pró-russos do Donbass, mas depois foi retomada pelo Exército ucraniano e, desde então, funcionava como uma espécie de ponte comercial e para quem entrava e saía da região, lembra a Rádio Europa Livre.
A declaração de Prigozhin, que é um empresário russo importante, próximo do Presidente Vladimir Putin, acontece depois de os Estados Unidos dizerem que o seu interesse estaria nas minas de sal e de outros minerais. A “obsessão” de Prigozhin seria explicada por “motivos monetários”, disse um responsável da Casa Branca à agência Reuters.
Os Estados Unidos já acusaram antes os mercenários russos do grupo Wagner de explorarem recursos naturais na República Centro Africana, Mali, Sudão e outros locais para ajudar no financiamento da guerra na Ucrânia. Moscovo rejeita essas acusações, dizendo que se trata de “raiva anti-russa”.
O grupo Wagner funciona ora como um grupo paramilitar com presença em vários destes países, ora como empresa de segurança privada para interesses russos no estrangeiro, por vezes ambos os papéis no mesmo local.
Para a ofensiva na Ucrânia, o grupo Wagner levou a cabo recrutamento nas prisões russas de condenados por crimes graves, garantindo-lhes que seriam libertados depois de lutar durante um certo período de tempo, regressando à Rússia como homens livres.
Prigozhin está sujeito a sanções dos EUA, por ter interferido nas eleições presidenciais de 2016, e da União Europeia, pelo papel do grupo Wagner.
Na quinta-feira, a agência russa RIA divulgou um vídeo de Prigozhin despedindo-se de um grupo de homens, recrutas condenados, que regressariam à Rússia após seis meses de combate na Ucrânia.
“Não bebam demasiado, não violem mulheres – [sexo] só por amor ou dinheiro”, disse Prigozhin ao grupo de homens, que se riram, segundo a Reuters. “Aqui aprenderam muito, primeiro que tudo, como matar o inimigo. Não quero que o pratiquem em território proibido. Se quiserem matar o inimigo de novo, voltem”, acrescentou, num autocarro, o líder da milícia, prometendo ainda que a polícia os trataria "com respeito".
O grupo deverá ter de recrutar mais homens devido a grandes perdas na Ucrânia, segundo uma avaliação do Institute for the Study of War (ISW), dos EUA.
Segundo o responsável da Casa Branca que indicou o motivo monetário para a ofensiva em Bakhmut, dos quase 50 mil elementos do grupo Wagner deslocados para a Ucrânia, mais de 4100 terão sido mortos e 10 mil ficaram feridos. Destes, mais de mil morreram entre o fim de Novembro e o início de Dezembro em Bakhmut, disse ainda o responsável.
O ISW diz que o vídeo com o suposto regresso à Rússia dos condenados perdoados deverá servir para “aumentar a campanha de recrutamento nas prisões russas”.
Prigozhin, avalia ainda o ISW, fez depender cada vez mais a sua posição em Moscovo e dentro do grupo Wagner à capacidade de conquistar território sobretudo, ainda que com pesados custos humanos, a zona de Bakhmut.