Montenegro convicto de que PS viabilizará comissão de inquérito à TAP e pede ao Governo que governe
“Não há nenhuma razão para haver uma crise política nesta legislatura”, vinca o líder social-democrata, que conta ter o novo programa eleitoral pronto em 2024 para ganhar eleições em 2026.
O presidente do PSD, Luís Montenegro, acredita que o PS vai viabilizar a criação de uma comissão de inquérito parlamentar à gestão da TAP, como já propuseram o Bloco e o Chega, e que deverá ser votada no final deste mês no Parlamento. Entretanto, o líder social-democrata pede ao Governo que governe, já que, ultrapassada a moção de censura, não há nenhuma razão para dissolver o Parlamento e fazer cair o executivo – a menos que seja o próprio a tratar da sua "implosão".
"É minha convicção que o PS vai viabilizar a comissão de inquérito à gestão da TAP. Se assim não for, isso significa mais uma vez que o PS quer obstaculizar o exercício normal de escrutínio e fiscalização do actos do Governo", afirmou o líder social-democrata quando questionado porque não usa já também o direito potestativo de criar uma comissão, já que não ficou satisfeito com as explicações de Fernando Medina no Parlamento.
"A questão está colocada ao contrário: não é o PSD que tem de exercer o direito potestativo à partida; o PS é que tem de exercer o seu dever de colaboração com o escrutínio na fiscalização", enfatizou Montenegro, argumentando que os socialistas são os primeiros interessados em "esclarecer as suas opiniões, posições e decisões". O presidente social-democrata insiste que actualmente há dois ministros com a autoridade de tal modo "enfraquecida" que deveriam ser substituídos: o das Finanças e a da Agricultura.
"Não há razão para crise política"
Sobre os recentes avisos do Presidente da República ao Governo, Luís Montenegro, que falava no final da primeira reunião da nova composição do Conselho Estratégico Nacional (CEN), em Lisboa, acredita que "não há nenhuma razão para haver uma crise política nesta legislatura". A menos que haja uma "implosão do Governo", com "episódios de fragmentação do suporte e da autoridade política de muitos membros" do executivo – tal como já começam a acumular-se.
"A normalidade é termos eleições em 2026. Tudo o que contrarie essa normalidade não depende de nós. Depende antes da incapacidade, ineficácia, incompetência e desintegração do Governo", apontou Montenegro. Que acrescentou que a equipa de António Costa devia estar "concentrada" em resolver problemas como a taxa de inflação "elevadíssima", a falta de capacidade de resposta dos serviços de Saúde, a falta de professores e de motivação nas escolas, a "asfixia fiscal", e a execução correcta do PRR e do Portugal 2030.
Questionado sobre se, ao dar um ano ao Governo, o Presidente da República está também a dar tempo ao PSD para se reorganizar, Luís Montenegro preferiu olhar para o recado de Marcelo Rebelo de Sousa através do que o PSD também tem dito: o Presidente estará também a pedir que a equipa de António Costa "governe", tal como foi mandatado pelos eleitores, e a dizer que as eleições foram há menos de um ano, que nelas os socialistas tiveram maioria absoluta (de um só partido, que é o pico da estabilidade) e ganharam condições "de governação excepcionais", sem qualquer dificuldade para executar o seu programa.
"O Presidente fez um apelo para que o Governo cumpra a sua tarefa: governe e não se distraia com problemas", vincou o líder social-democrata. E lamentou que o país esteja "distraído há várias semanas à conta exclusivamente de casos de grande relevância que ocorrem dentro do Governo".
O líder social-democrata prevê que em 2024 o partido tenha já um programa eleitoral "completamente formatado" para o apresentar cuidadosamente ao país e convencer o eleitorado a dar-lhe a vitória nas legislativas do Outono de 2026 – se o calendário eleitoral for cumprido.
É nesse programa que o CEN vai agora trabalhar, também para contrariar a ideia de que o PSD não faz oposição e não tem alternativa. "Eu estou focado em ser uma alternativa credível, mobilizadora e ganhadora", garante Montenegro, defendendo que o seu partido é o líder da oposição e vai continuar a "fiscalizar e escrutinar o Governo" com a "serenidade" de uma "oposição responsável".
E fez questão de realçar que a atitude desta direcção do PSD tem sido classificada por "todos os intervenientes públicos" – leia-se comentadores da comunicação social – como "mais interventiva, mais proactiva e mais presente, reagindo em cima da situação política. Isso não mudou só porque o PSD se absteve na moção de censura."