Irão executa mais dois homens que participaram em protestos

Condenações à morte são decididas em julgamentos rápidos, em que os acusados não têm direito a escolher a sua defesa. Há indícios de confissões forçadas sob tortura.

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Manifestação de protesto no Irão em Setembro EPA/STR

O Irão executou este sábado dois homens, condenados por terem alegadamente morto um membro da milícia paramilitar Bassij durante os protestos que se seguiram à morte de Mahsa Amini. São Mohammad Mehdi Karami, 22 anos, e Seyyed Mohammad Hosseini, 39.

No mesmo processo foram também condenados à pena de morte outros três homens, enquanto onze foram condenados a penas de prisão, diz a agência Reuters.

A agência oficial IRNA deu a notícia das execuções. Antes, tinham sido já executados outros dois manifestantes, Mohsen Shekari, de 23 anos, a 8 de Dezembro, acusado de ter atacado um bassiji (elemento da milícia Bassij), e Majid Reza Rahnavard, de 23 anos, quatro dias mais tarde, acusado de ter morto dois membros da mesma força, integrada nos Guardas da Revolução, conhecida pela sua brutalidade e que tem sido uma das principais responsáveis pela repressão violenta dos protestos. Os manifestantes têm-se defendido e contra-atacado, conseguindo, por vezes, afastar os bassiji.

“Não foram executados, foram linchados”, reagiu Hadi Ghaemi, do Center for Human Rights in Iran, com sede em Nova Iorque, referindo-se à total irregularidade dos julgamentos rápidos, à porta fechada, em que os acusados não têm direito a defesa escolhida por si, apoiados em confissões forçadas, obtidas sob tortura em muitos dos casos.

A Amnistia Internacional, que classifica todos estes julgamentos como uma farsa, destinada a fazer parar os protestos, também diz que a confissão de Karami, campeão de karaté, foi obtida sob tortura. Ali Sharifzadeh Ardakani, um advogado a quem foi permitido visitar Hosseini em Dezembro, contou que na visita o detido tinha chorado ao relatar a tortura a que tinha sido submetido: agredido enquanto tinha mãos e pés amarrados e uma venda nos olhos, levando pontapés na cabeça até ficar inconsciente, agredido com barras de ferro nas plantas dos pés ou levando choques eléctricos em várias partes do corpo. O advogado viu negado o pedido para representar Hosseini no julgamento.

Há ainda uma grande falta de informação às famílias: num dos casos, o de Majid Reza Rahnavard, executado a 18 de Dezembro, a mãe foi autorizada a visitá-lo no dia anterior, sem que nenhum dos dois fizesse qualquer ideia da execução iminente. A execução foi pública, e uma confissão gravada terá sido conseguida sob tortura, dizem activistas que mostraram uma fotografia de Rahnavard com o braço ao peito.

Da Europa, alguns políticos – na Alemanha ou em França, por exemplo – estão a participar numa campanha para dar visibilidade a estes casos, sendo "madrinhas" e "padrinhos políticos" dos condenados à morte. O deputado alemão dos Verdes Helge Limburg era padrinho de Karami. “Não consigo expressar a minha profunda tristeza e raiva ao mesmo tempo”, reagiu no Twitter às notícias da execução.

Os protestos provocados pela morte de Mahsa Amini, em Setembro, depois de ter sido agredida pela "polícia da moralidade" por estar a usar o hijab, o lenço islâmico, solto, deixando ver parte do cabelo – transformaram-se rapidamente numa contestação ao regime, que reagiu com violência: mais de 500 pessoas morreram durante os protestos, e foram detidos quase 20 mil manifestantes.

No ano de 2022, o número de execuções no Irão foi o mais alto dos últimos cinco anos, diz o grupo com sede na Noruega Iran Human Rights (IHR). O país é o segundo do mundo com mais execuções, a seguir à China. A organização diz que pelo menos cem pessoas estão em risco de serem executadas no Irão, tendo já sido condenadas a pena de morte ou sendo acusadas por crimes que acarretam essa pena.

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