O futuro da poupança de água passa por robôs nas canalizações

Todos os anos, biliões de litros de água potável são perdidos durante a distribuição. Estes robôs autónomos vão permitir identificar com precisão problemas na rede e poupar água, tempo e dinheiro.

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Robôs de canalização permitem monitorizar o estado das redes e detectar os problemas na origem das perdas DANIEL ROCHA

Poupar água é, mais do que nunca, uma prioridade para garantir a disponibilidade de recursos hídricos no caminho da sustentabilidade ambiental. Mas os gastos excessivos não começam necessariamente no consumo: todos os dias são desperdiçados milhões de litros de água nas redes de distribuição. Para ajudar a reduzir estas perdas, várias empresas têm desenvolvido robôs capazes de se deslocar pelas canalizações para identificar entupimentos e fugas.

Em 2020, Portugal perdeu pelo menos 174 mil milhões de litros de água para consumo na rede de distribuição, de acordo com o relatório de 2021 da Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos. O valor seria suficiente para abastecer mais de um milhão de famílias ou encher quase 70 mil piscinas olímpicas. A nível global, o Banco Mundial estima perdas anuais de 32 biliões de litros.

Os robôs permitem monitorizar o estado das redes e detectar com precisão as fugas ou bloqueios que estejam na origem das perdas. Estas tarefas são muito difíceis actualmente: milhares de quilómetros de canalizações subterrâneas tornam impossível manter toda a rede vigiada, e casos de manutenção e reparação implicam o encerramento de estradas e o corte do fornecimento de água apenas para detectar a origem do problema.

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O Pathfinder viaja pela água, permitindo que o fornecimento não seja interrompido JF Guiderdoni (ACWA Robotics)

Já existem vários modelos destas máquinas pensadas para circular pelas canalizações. Em França, 2023 vai ser ano de testes-piloto para o projecto ACWA Robotics, que está a trabalhar no Clean Water Pathfinder, um robô autónomo (com inteligência artificial), com uma estrutura que faz lembrar uma serpente, capaz de viajar pelas canalizações contra ou a favor da corrente da água, sem interromper a distribuição.

Além de conseguir uma avaliação “sem precedentes” do estado das tubagens, este robô francês também vai conseguir monitorizar níveis de calcificação e corrosão da rede. O projecto venceu esta semana um prémio de inovação na categoria de Smart Cities dos CES Innovation Awards, os prémios da Consumer Electronics Show (CES), a maior feira de tecnologia do mundo, que decorre por estes dias em Las Vegas.

No Reino Unido, uma equipa de investigação que junta várias universidades está a trabalhar com empresas de fornecimento de água para desenvolver os Pipebots, pequenos robôs autónomos munidos de câmaras e “pernas” todo-o-terreno que permitirão antecipar problemas e poupar milhões de libras em escavações e evitar cortes de circulação desnecessários.

“As empresas só respondem reactivamente a falhas, de momento, e não proactivamente”, explicou à BBC Kirill Horoshenkov, o professor da Universidade de Sheffield que dirige o programa. “Precisamos de robôs que possam recolher dados continuamente antes do aparecimento de falhas."

A ideia é que estes Pipebots, capacitados com sistemas de inteligência artificial, formem uma pequena “sociedade de trabalhadores", liderados por um robô-mãe que os distribui e recolhe em cada operação. Como não há sinal de GPS nestes canais subterrâneos, os engenheiros pensam equipá-los com wi-fi para que possam comunicar entre si durante as missões. A equipa espera que possam começar a trabalhar dentro de cinco anos. Até lá, vamos continuar a viver com estradas cortadas para reparar canalizações.

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