Francisco José Viegas vai ao Encontro de Leituras de Janeiro
A Luz de Pequim estará em discussão a 10 de Janeiro, às 22h, no início deste terceiro ano do clube do PÚBLICO e da Folha de S. Paulo.
Pelo preço que o leitor paga por um livro tem direito a várias mortes. Este é um dos lemas do escritor Francisco José Viegas nos seus romances dedicados a Jaime Ramos, que tem leitores fiéis há 30 anos. Em Setembro chegou às livrarias portuguesas Melancholia, a mais recente investigação do inspector da Polícia Judiciária do Porto, mas será o seu livro anterior, A Luz de Pequim, que estará em discussão na primeira sessão do terceiro ano do Encontro de Leituras.
A sessão com o escritor, poeta e editor português acontece no dia 10 de Janeiro, às 22h de Lisboa (19h de Brasília), na plataforma Zoom, aberta a todas as pessoas que queiram participar.
Pode aceder através deste link ou inserir o ID da reunião 820 7497 2849 e a senha de acesso 538972.
Em A Luz de Pequim vive-se um tempo de ajuste de contas. Dentro da própria Polícia Judiciária há um inquérito interno a decorrer sobre Jaime Ramos, o inspector que “não acreditava na redenção de homicidas”, e isso vai levá-lo a fazer uma investigação sobre si próprio e o seu passado.
“Apanharam-me, Isaltino, como eu merecia. Achas que é isto que eu vou dizer? Apanharam-me. A meio passo da demência, falhei sempre que pude. Falhei operações de vigilância. Falhei nos meus amores passados (de hoje em diante não há mais nenhum), nas minhas amizades perdidas, no refrão dos meus boleros preferidos. Falhei na escrita dos relatórios. A lista dos erros processuais não os interessa. Nem a aclamada taxa de sucesso. Nem as capturas, os casos resolvidos. Havia uma tentação religiosa, reconheço: persegui os ímpios, não dei descanso aos pecadores, aos relapsos ou aos preguiçosos. O mundo não ficou melhor”, desabafa o inspector em A Luz de Pequim. "(...) Eu sempre soube isso, pensou Jaime Ramos. E falhei. Agora só me resta falhar mais, falhar melhor, falhar de novo, até não haver hipóteses de falhar nunca mais." (pág. 117)
Aparece também nesta obra um seu velho amigo, Júlio Freixo, companheiro de lutas políticas, o que o leva a revisitar a sua história no Partido Comunista durante os anos 70. E entre muitas outras personagens, há Severo Aleixo, que nos agarra logo na primeira aparição. Este homem que é dono de uma arara, a quem chamou Homero, fez uma operação na antiga União Soviética para aumentar o seu metro e cinquenta e seis de altura que correu mal e ainda hoje sofre por isso. É o pai de Alfredo Aleixo, cujo corpo aparece suspenso numa barra de ferro enferrujado da velha ponte D. Luís, no Porto. Este não é o único homicídio que é preciso desvendar; logo no primeiro capítulo, já tinha aparecido um cadáver no Douro.
Publicado em Portugal em 2019 pela Porto Editora, A Luz de Pequim recebeu o Prémio Literário Fernando Namora 2020 e Prémio PEN Narrativa no mesmo ano. No Brasil, foi editada em Junho passado pela Editora Gryphus. É “um falso policial”, como o definiu Mário Santos no Ípsilon. Para o crítico do PÚBLICO, Jaime Ramos é “uma das poucas personagens romanescas (facilmente) memoráveis da ficção portuguesa contemporânea". E este é um falso policial, porque “o que verdadeiramente importa": "é a descrição da geografia física, sentimental e humana, mental e moral, tão miúda, tão desavinda com o politicamente correcto, tão prosaica e portuguesa, irresgatável, onde transcorre o quotidiano de Jaime Ramos. E o nosso.”
Francisco José Viegas é editor da Quetzal desde 2009 e director da revista Ler, fundada em 1987. Como jornalista foi também director da Grande Reportagem e autor de vários programas de televisão. Foi director da Casa Fernando Pessoa e também secretário de Estado da Cultura.
O Encontro de Leituras junta leitores de língua portuguesa uma vez por mês e discute romances, ensaios, memórias, literatura de viagem e obras de jornalismo literário na presença de um escritor ou especialista convidado. É moderado pela jornalista Isabel Coutinho, responsável pelo site do PÚBLICO dedicado aos livros, o Leituras, e pelo jornalista da Folha de S. Paulo Eduardo Sombini, apresentador do Ilustríssima Conversa, podcast de livros de não-ficção.
O podcast do Encontro de Leituras está disponível no Spotify, Apple Podcasts, SoundCloud ou outras aplicações para podcasts.