Do estado de negação do ME à revolta dos professores
Os professores estão exaustos. O ministério não pode estar contra os professores. É nobreza de caráter reconhecer os erros, emendar a mão e dizer Presente.
Dia 17 de dezembro de 2022, um sábado, Lisboa. Um dia histórico para a classe docente. Uma manifestação com um clique sindical, mas na essência um movimento espontâneo que começou nas redes sociais e nos blogues e que agora é notícia e mostra o descontentamento docente, com as emoções à flor da pele de dezenas de milhares de educadores e professores. Uma manifestação do despertar de consciência de classe dos professores portugueses. Gritando as suas razões em defesa da escola pública e dos seus direitos. Uma das maiores manifestações de sempre, com a presença transversal de colegas não sindicalizados, de associados de todos os sindicatos e federações e de políticos.
Também o Presidente Marcelo está solidário com a luta dos professores. A injustiça que sentimos foi o rastilho/gatilho que disparou o transbordar/explodir de todo um acumular de abandono, injustiças, mágoas, “trabalho escravo” nas escolas, “roubo” de tempo de serviço efetivamente trabalhado, não contabilizado e nem sequer propostas de compensação (a reforma antecipada ou a aposentação sem penalização com 36 anos de serviço), vagas/quotas na avaliação. Os sinais de mal-estar docente estão assinalados.
O Ministério da Educação (ME) tem de perceber que o trabalho docente é um trabalho intelectual. Lamentavelmente, o ME transformou o trabalho intelectual docente em trabalho proletário, no sentido operário, do faz tudo, do trabalho indiferenciado. Donde, a negação do ME do professorado enquanto elite intelectual altamente qualificada e especializada e massa crítica pensante resultar num terrível equívoco/engano que levou ao atual estado de coisas.
Desde 2005, desde Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues, há 17 anos que o professorado tem vivido um inferno de turbulência negativa grave e “terrorismo tutelar” sem tréguas. O professorado tem sido desautorizado, desvalorizado, negada a progressão, empobrecido, diminuído e achincalhado na sociedade. Os professores precisam de tempo para preparar as aulas, em vez de relatórios, “papelada digital”, burocracia insana e inutilidades que para nada servem e são perda de tempo. Os professores estão exaustos. O ME não pode estar contra os professores. Errare humanum est. É nobreza de caráter reconhecer os erros, emendar a mão e dizer Presente. Alea jacta est (a sorte está lançada).
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico