Se não for Messi a erguê-lo, quem fica a perder é o troféu
Há dias, o argentino Lisandro Martínez dizia que “Messi se tem preparado muito bem e está feliz”. “Vamos à guerra por ele”, acrescentou, sobre poderem dar o título ao capitão no seu último Mundial. Depois de ser eliminado pela Argentina, Luka Modric disse: “Espero que o Messi seja campeão. Ele é o melhor da história e merece.”
Um jornalista que se desligue do seu clube e da sua selecção geralmente torce pela equipa que lhe oferece a melhor narrativa. E posso garantir que não falo apenas por mim quando apreciamos, por cá, a narrativa de, no seu último Mundial, ver Lionel Messi ser campeão, podendo fazer o que Maradona fez em 1986.
Não é desejo unânime, naturalmente, mas é bastante generalizado aqui em Doha. Mesmo entre os portugueses — e muitos, talvez mesmo todos, haverão de ter torcido bastante por Ronaldo durante largos anos.
Sorri quando li algures numa caixa de comentários que já chegámos a um ponto deste Mundial, com o desempenho inacreditável de Messi, em que podemos dizer que, se não for argentino a erguer o troféu, quem perde é o troféu.
Ver Lionel Messi ao vivo — seja em Portugal, em Espanha ou no Qatar — dá-nos sempre a mesma lição: o futebol ainda se joga com a cabeça e com a técnica, mais do que com o pulmão. E é bom que ainda haja alguém a lembrar-nos disso.
No Argentina-Croácia, como noutras noites iguais a essa, Messi correu pouco. Foram oito quilómetros, sendo que, descontando o guarda-redes Martínez, foi o jogador que menos correu entre os que fizeram 90 minutos. Mais do que isso: passou boa parte do jogo parado ou a passo.
No PSG, Messi tem de correr um pouco mais, que Neymar e Mbappé também não desdenham uma boa folga defensiva. Na Argentina, é apenas Messi quem “faz gazeta”. E quando mais alguém se atreve a tentar algo semelhante, a equipa começa a ruir imediatamente.
É até curioso como talvez nenhuma Argentina tenha sido tão dependente de Messi como é esta. Sim, Di Maria, Dybala e Lautaro pouco jogam, e isso soa-nos a desperdício, mas é precisamente para elevar Messi que isso acontece — Álvarez, Mac Allister, De Paul e Enzo, tecnicamente menos abastados, permitem que Messi fique quieto. E Messi tem de estar quieto — até deixar de estar. E quando entender deixar de estar.
Depois, faz o que falta. E o que falta é aquele pé esquerdo desenhar coisas que fazem relembrar Maradona. E qualquer um que faça lembrar “El Pibe” tem de erguer o troféu. Porque o troféu merece.