A arte de rua de um reformado é o “jogo do gato e o rato” com autoridades russas
Vladimir Ovchinnikov é reformado e usa a arte para criticar investida da Rússia em território ucraniano.
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Durante mais de 20 anos, Vladimir Ovchinnikov acumulou fãs por causa dos murais de rua que pintava na pequena cidade de Borovsk, a cerca de 115 quilómetros a sudoeste de Moscovo. Muitos destes murais retratavam a situação difícil das vítimas das repressões da era estalinista.
Mas a 25 de Março, pouco mais de um mês depois de a Rússia enviar dezenas de milhares de soldados para a Ucrânia, Ovchinnikov criou um novo mural que o tornou num alvo. Pintou uma menina, com um vestido azul e amarelo, as cores da bandeira ucraniana, e uma bomba a cair sobre ela. Em baixo, em letras maiúsculas, escreveu: "STOP" [pare].
O mural não respeitava as novas leis aprovadas pelo governo russo que criminalizam a oposição à campanha militar na Ucrânia. "A polícia disse que esta peça desacreditava o nosso exército", disse Ovchinnikov, reformado de 85 anos, à Reuters.
O mural foi apagado com tinta e Ovchinnikov foi condenado a pagar uma multa de 35 mil rublos (cerca de 521 euros) pelo delito de "desacreditar o exército russo", que pode acarretar uma pena máxima de cinco anos de prisão.
Em resposta, o reformado pintou uma nova peça, no mesmo local, e escreveu a palavra "bezumiye" (loucura em russo), grafada com a letra Z, que se tornou um símbolo do que Moscovo chama a sua operação militar especial na Ucrânia. A polícia voltou, rapidamente, a pintar o mural. Isto desencadeou um jogo do gato e o rato entre Ovchinnikov e a polícia de Borovsk, uma cidade com 12 mil habitantes.
O reformado voltou ao local do mural e desenhou as palavras "pozor" (vergonha), "fiasco" e "basta", cada uma pintada com a letra Z. Todas acabaram apagadas pela polícia.
Para Ovchinnikov, a oposição ao conflito na Ucrânia é sustentada pela sua história familiar de repressão na era soviética. O seu avô foi baleado pelos bolcheviques de Lenine em 1919 e o seu pai foi preso durante os expurgos de Estaline em 1937.
O artista diz que a história da repressão política da Rússia é o motivo da sua arte. "Este tópico da repressão política, a limpeza da memória histórica, é a mesma coisa que está a acontecer com a Ucrânia", disse Ovchinnikov.