Qatargate: Parlamento Europeu afasta Eva Kaili da vice-presidência
O advogado da eurodeputada grega diz que a sua cliente não tem qualquer envolvimento no esquema de corrupção para beneficiar o Qatar.
A eurodeputada Eva Kaili garante estar inocente e nega qualquer participação no alegado esquema de corrupção que envolve o favorecimento do Qatar junto das instituições europeias.
A quebra do silêncio aconteceu por via do advogado da eurodeputada grega esta terça-feira, em declarações à televisão do país. “[Eva Kaili] declara a sua inocência e que nada tem que ver com os subornos do Qatar”, garantiu Michalis Dimitrakopoulos.
Esta manhã, o Parlamento Europeu votou de forma quase unânime a favor da remoção de Kaili do cargo de vice-presidente da instituição. A decisão recebeu a aprovação de 625 deputados e apenas um voto contra e duas abstenções. Apesar de lhe ter sido retirado o cargo de vice-presidente do Parlamento Europeu, Kaili não deixa de ser eurodeputada.
No entanto, como o pai da parlamentar foi apanhado em flagrante num hotel de Bruxelas com uma mala em que transportava dinheiro vivo, as autoridades belgas têm agido com o pressuposto deste flagrante delito e, por isso, a imunidade de Kaili ficou sem efeito. Desta forma, foi possível autorizar as buscas à casa da eurodeputada.
Após a votação, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, disse que a instituição “deve vir em primeiro lugar”. Na véspera, fazendo eco de várias declarações semelhantes, Metsola admitiu que estes tinham sido “dias difíceis para a democracia europeia”.
Na sexta-feira, Kaili e outras três pessoas foram detidas na sequência de uma grande operação policial na Bélgica e em Itália, que incluiu buscas em 19 residências e gabinetes parlamentares. As quatro pessoas, que não foram nomeadas oficialmente, foram acusadas pelo Ministério Público belga pelos crimes de organização criminosa, corrupção e branqueamento de capitais.
Segundo os procuradores, participavam num esquema em que, a troco de subornos por parte das autoridades do Qatar, tentavam influenciar o discurso público e as decisões nas instituições europeias referentes ao emirado. Os restantes acusados são o ex-eurodeputado Pier Antonio Panzeri, o secretário-geral da Confederação Sindical Internacional, Luca Visentini, e o companheiro de Kaili, Francesco Georgi, que trabalha como assessor parlamentar.
O Governo de Doha rejeita todas as acusações de ter subornado dirigentes europeus.
A polícia belga apreendeu várias quantias de dinheiro que ascendem a mais de 1,5 milhões de euros, segundo o jornal Le Soir, para além de computadores pessoais e telemóveis.
O advogado de Kaili disse não poder confirmar se o dinheiro foi encontrado na casa da eurodeputada, alegando dever de “confidencialidade”. “Não sei se o dinheiro foi encontrado nem quanto é que foi encontrado”, afirmou.
Para além de ter sido afastada do cargo de vice-presidente do Parlamento Europeu, Kaili foi também expulsa do Partido Socialista grego (PASOK) e suspensa do Grupo dos Socialistas e Democratas. As autoridades gregas congelaram os seus bens e dos seus familiares mais próximos.
O escândalo está a ser descrito como um dos casos mais sérios a pôr em causa a imagem das instituições europeias perante os cidadãos e, sobretudo, o papel da União Europeia como defensora de práticas de responsabilização política de exigência elevada.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que as alegações são “muito graves” e “abalam a confiança dos cidadãos”. A líder do executivo comunitário prometeu ainda fazer esforços para que seja instituído um órgão independente de vigilância ética, de acordo com recomendações que já haviam sido feitas no passado.
A organização Transparência Internacional disse que o caso que envolve Kaili e os subornos provenientes do Qatar “nunca teria acontecido” se houvesse “um ambiente em Bruxelas em que a transparência, a ética e a integridade fossem verdadeiramente importantes, e em que houvesse responsabilidade por condutas impróprias e total transparência no que toca a lobbying e ao respeito da lei por parte dos eurodeputados”.