Angelo Badalamenti (1937-2022), o compositor de Twin Peaks
Artista tinha 85 anos. O músico morreu em casa, na cidade de Nova Jérsia, no passado domingo. Foi casado com Lonny Badalamenti, com quem teve uma filha.
Morreu no domingo o músico norte-americano Angelo Badalamenti, que se notabilizou como compositor e cúmplice musical do cineasta David Lynch. O nova-iorquino tinha 85 anos e morreu em casa, em Lincoln Park, Nova Jérsia, de causas naturais, segundo informação da sua agente, Laura Engel, ao jornal Los Angeles Times e da sobrinha Frances à revista Hollywood Reporter.
Apesar de ter já uma longa carreira como músico, foi só a partir da sua colaboração com Lynch no filme de 1986 Veludo Azul, prolongada por cinco outros filmes e pela série televisiva Twin Peaks, que se tornou célebre.
Inicialmente contratado como professor de voz da actriz Isabella Rossellini, Badalamenti acabaria por compor toda a banda sonora de Veludo Azul e surgiria inclusive no ecrã, como o pianista que acompanha a actriz durante a interpretação do tema Blue Velvet numa das cenas.
O tema do genérico de Twin Peaks é exemplar do seu estilo romântico e esparso, com apenas três notas musicais a construirem praticamente sozinhas o ambiente da bucólica cidade ficcional onde Lynch e David Frost situaram o seu mistério surreal. Twin Peaks Theme valeu-lhe o Grammy de 1990 para melhor peça pop instrumental.
Numa entrevista ao American Film Institute, Lynch descreveu o seu método de trabalho: “Eu sento-me ao lado dele e falo com ele, e ele toca aquilo que eu digo”.
A sua colaboração – que Badalamenti descreveria como quase telepática – prolongar-se-ia nos filmes Um Coração Selvagem, Twin Peaks – Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer, Estrada Perdida, Uma História Simples e Mulholland Drive, na terceira série de Twin Peaks, em 2017, e numa série de projectos musicais que passaram pelos álbuns Floating Into the Night e The Voice of Love, da cantora Julee Cruise, pelo projecto experimental de jazz Thought Gang e o concerto conceptual Industrial Symphony no. 1: The Dream of the Brokenhearted.
Em 1960, depois de fazer mestrado na Manhattan School of Music, Badalamenti iniciou carreira como professor de música e começou a compor, com Nina Simone ou Nancy Wilson a gravarem algumas das suas canções.
Assinou a sua primeira banda sonora para cinema em 1973 – o policial blaxploitation O Comando Anti-Droga, de Ossie Davis.
Para além de Lynch, trabalhou com realizadores como Jane Campion (Fumo Sagrado), Danny Boyle (A Praia), Paul Schrader (Estranha Sedução e Auto Focus) ou Jean-Pierre Jeunet (A Cidade das Crianças Perdidas e Um Longo Domingo de Noivado).
Compôs para os Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992, e gravou com Tim Booth, vocalista do grupo inglês James, sob o genérico Booth and The Bad Angel, e com a cantora Marianne Faithfull, a quem produziu o álbum A Secret Life.
Angelo Daniel Badalamenti nasceu em Nova Iorque a 22 de Março de 1937, segundo de quatro filhos de John e Leonora Badalamenti. Deixa a sua mulher de longa data, Lonny, uma filha e quatro netos; o seu filho André morreu em 2012.