Socialistas europeus expulsam Eva Kaili e pedem investigação “minuciosa”
Eurodeputados do PS não tomam posição sobre polémica que envolve vice-presidente do Parlamento Europeu. Pedro Marques, enquanto vice-presidente do S&D, espera que culpados sejam punidos.
O grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) expulsou esta segunda-feira Eva Kaili, vice-presidente do Parlamento Europeu (PE), alegadamente envolvida no esquema de corrupção Qatargate e defendeu que se realize uma "investigação minuciosa" sobre estas suspeitas. Pedro Marques apela, enquanto vice-presidente do S&D, a que se punam os culpados "sem hesitação".
Eva Kaili, uma das 14 vice-presidentes do PE eurodeputada independente que integra o S&D, foi detida e acusada na semana passada pelas autoridades belgas pelos crimes de pertença a organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção relacionados com subornos por parte do Governo do Qatar com vista a influenciar as decisões do PE.
A posição oficial do S&D será apresentada em conferência de imprensa esta terça-feira pela presidente do grupo, Iratxe García Pérez, mas os socialistas europeus já emitiram um comunicado online em que afirmam estar "chocados" com as alegações de corrupção, para as quais dizem ter "zero tolerância".
Na mesma nota, a aliança entre democratas e socialistas defende que se realize uma investigação "minuciosa" que resulte em sanções para "qualquer Estado e indivíduos envolvidos" caso venha a provar-se que existiu "ingerência estrangeira" e "corrupção" e garante que irá "cooperar totalmente com todas as autoridades".
Após uma reunião do grupo parlamentar, o S&D propôs que se suspendam os trabalhos parlamentares relativos a países do Golfo, particularmente em relação a políticas de liberalização de vistos e a visitas planeadas, que se adicione uma discussão na agenda plenária desta semana sobre este caso e a necessidade de "transparência e responsabilização nas instituições da União Europeia" e ainda que seja criada uma comissão de inquérito acerca da interferência estrangeira nessas mesmas instituições.
O S&D decidiu também expulsar Eva Kaili (que já se encontrava suspensa) e pediu uma votação em plenário à presidência do PE para que destitua a eurodeputada grega de vice-presidente, na sequência da suspensão anunciada no sábado.
Pedro Marques pede sanções "sem hesitação"
Contactado pelo PÚBLICO, o eurodeputado socialista Pedro Marques declarou enquanto vice-presidente do S&D que as alegações de corrupção "são uma mancha, uma nódoa" e apelou a que a investigação seja "levada às últimas consequências, punindo os culpados sem hesitação".
"O nosso grupo constituir-se-á como assistente e parte lesada no processo judicial", afirmou, acrescentando que "se tudo o que sabemos é verdade, só esperamos que seja feita justiça" para "preservar a integridade da nossa democracia e das instituições europeias".
Já a eurodeputada do PS Isabel Santos pediu este domingo a renúncia do conselho honorário da ONG Fight Impunity, também envolvida no caso, decisão que tomou "chocada e surpreendida", disse ao PÚBLICO. Já sobre as investigações em curso absteve-se de fazer qualquer comentário.
Contactados pelo PÚBLICO, nem o grupo parlamentar do PS nem a delegação socialista do PE quiseram pronunciar-se sobre o assunto. Já o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, declarou à margem de uma reunião em Bruxelas que recebeu as notícias sobre o alegado caso de corrupção "com grande preocupação" porque "põem em causa as instituições", tendo pedido, citado pela Lusa, que se investigue "profundamente" e se penalize "quem tiver de ser penalizado".
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu também, em declarações aos jornalistas, em Ourém, que o caso de alegada corrupção “deve-se investigar exemplarmente a todos os níveis porque senão a corrupção alimenta a corrupção e a impunidade alimenta a impunidade”.