Manoel Júnior convida os jornalistas a entrar na casa de banho das senhoras. Mostra um sofá confortável porque, já se sabe que as mulheres nunca vão sozinhas aos lavabos, brinca. Depois, entra numa das divisórias e pega numa embalagem de detergente, explicando a sua função antibacteriana e que, por isso, qualquer cliente poderá usá-lo para limpar o tampo da sanita e sentar-se. E por que razão o fará numa casa de banho de um restaurante? Porque a sanita é inteligente: é aqui que o proprietário do Estação Menina Bonita, em Lisboa, nos mostra o comando.
O restaurante fica numa zona industrial da cidade, na Avenida Infante Dom Henrique, aonde o proprietário espera que cheguem autocarros com turistas, incluindo dos cruzeiros, para preencherem os 300 lugares da sala deste armazém em que não falta tecnologia. Não são só as chinesas Smart Toilets que são inteligentes: os vidros que separam a cozinha da sala do resto do espaço rapidamente passam de transparentes a opacos. É Manoel Júnior quem os controla a partir do seu telefone. As lareiras, que parecem ter chamas a crepitar, são de vapor de água e podem ser usadas no Verão (para refrescar) e no Inverno (para aquecer). Os candeeiros que pendem do tecto dançam e mudam de cor ritmadamente, graças às suas luzes cinéticas.
E, depois, há o cartão-de-visita da casa, os robôs que não aceitam pedidos nem servem os convivas, mas que vão à mesa levar os pratos e que, para avisar que cirandam pela sala, vão miando e fazendo pisca, ora com a orelhinha esquerda quando querem ir nessa direcção, ora com a direita.
Tudo começa à entrada do armazém que foi transformado em restaurante. É Diovana quem nos recebe e chama "Little D", o pequeno robô que nos leva até à nossa mesa e que foi baptizado assim pela recepcionista. Antes, Diovana digita o número da mesa, sorri e deseja-nos uma boa experiência, permanecendo no seu posto, à entrada do Estação Menina Bonita. A ideia, conta o proprietário Manoel Júnior, é convidar os clientes a fazer uma viagem pela gastronomia de 15 países pois existem pratos portugueses, italianos, asiáticos, da América Latina e da América do Norte, e até há um que foi ele que criou, orgulha-se. O objectivo é experimentar a gastronomia de alguns dos lugares por onde o empresário e a mulher, Ana Penha, já passaram. O chef residente chama-se Lyon Frutuoso e o consultor é Márcio Rodrigues, que participou no programa Masterchef em 2015.
"Tenho vários negócios, eu e a minha 'Menina Bonita' [é assim que chama à mulher], viajamos muito, quis investir e abrir um restaurante diferente, ter algo que os outros não tivessem. Comida boa todos têm, mas falta entretenimento", conta aos jornalistas o ex-professor de Educação Física, que deu aulas nos Maristas, no Brasil e em Portugal. Por isso, pensou num espaço grande onde se possa comer, enquanto se ouve boa música e onde se pode até dançar.
Ao todo são 70 mesas. Estas são de resina, todas diferentes e, sem ninguém perguntar, Manoel dispara o valor médio de cada uma, seis mil euros. "A da sala VIP custou 15 mil", informa. A dividir a sala está o bar e, por cima deste, uma cascata, feita em círculo, com água que não pára de jorrar, mudando de cor e efeitos. Esta destaca-se mais quando o saxofonista é elevado até ao centro do círculo e toca sucessos da Bossa Nova e, à sua volta, a água desenha corações, espadas, entre outros.
O menu está num QRCode, colocado na mesa, e o pedido é feito ao empregado que o envia para a cozinha através do aparelho que tem na mão. Na cozinha, o pedido aparece num ecrã. O mesmo acontece no bar, onde as bebidas são preparadas e depositadas na prateleira de um dos robôs. Ao todo, há seis "bellabots", os que percorrem a sala a miar, e três "hollabots", maiores, e que são usados pelos empregados, depois de terminada a refeição, para levar os pratos, copos e talheres até à copa suja.
Manoel Júnior é o representante dos robôs Pudorobotics, de fabrico chinês, em Portugal, através da sua empresa PixelVision. Além dos dez robots (não esquecer o "Little D") existem 45 funcionários, entre empregados de mesa, bar, banda, música e cozinha. São sensivelmente 30 por serviço. Os empregados de mesa vão variando conforme a lotação prevista da sala, mas são entre quatro e sete por serviço, informa.
Sem janelas para a rua, existem quatro ecrãs LED emoldurados que mostram a Torre de Belém e o rio a agitar-se, mas, graças ao telefone do proprietário, podem revelar Paris ou Nova Iorque, de dia ou de noite, conforme a hora. Há ainda um ecrã com 24 metros quadrados, anuncia Manoel Júnior, resumindo que investiu dois milhões de euros no restaurante.
E como fazer chegar os clientes a um espaço que não fica no centro da cidade, nem numa zona residencial? "Estou entre a Praça do Comércio e a Expo. Há estacionamento aqui dentro e na rua detrás", diz, pegando no telefone e mostrando as inúmeras formas de chegar ao restaurante, por exemplo, para quem vem da Segunda Circular, e informando que existem já contactos com agências de turismo, além de que, destaca, as redes sociais também podem ajudar. E remata: "Eu tenho muitas ideias."
Para já, o Estação Menina Bonita lançou um menu executivo, ao almoço, durante a semana, no valor de 18 euros (prato, bebida e café), com a promessa de ouvir-se música ao vivo. E tem já uma proposta para o final do ano.
O Fugas almoçou a convite do restaurante Estação Menina Bonita