Ryuichi Sakamoto, que combate um cancro, transmitiu aquele que pode ser o seu último concerto
Compositor e músico japonês sofre de cancro em fase terminal. Montou um concerto com alguns dos seus mais conhecidos temas e que foi transmitido nas últimas horas em streaming.
O japonês Ryuichi Sakamoto, conhecido pela sua música electrónica ou pela banda sonora original do filme O Último Imperador, terminou esta segunda-feira a transmissão de um concerto em streaming que pode ter sido o último do premiado compositor, que está a combater um cancro em fase quatro.
Sakamoto, de 70 anos, disse este mês numa mensagem online que esta sua actuação pouco ortodoxa, transmitida para mais de duas dúzias de países em todo o mundo, surgiu porque já não consegue completar um concerto convencional.
"A minha força decaiu bastante, por isso um concerto de uma hora a 90 minutos de duração seria muito difícil", disse. "Por conseguinte, gravei-o tema a tema e montei-o para que possa ser apresentado como um concerto convencional — o que acredito que possa ser prazenteiro da forma mais normal possível. Apreciem."
O concerto, que contou com um solo ao piano de Sakamoto em 13 dos temas, incluiu peças de O Último Imperador e de Feliz Natal Sr. Lawrence, em que actuou ao lado de David Bowie além de ter escrito a banda-sonora. A actuação foi transmitida em streaming quatro vezes desde as 12h de 11 de Dezembro, e a última delas foi emitida ao início da manhã (hora japonesa).
Sakamoto começou a tocar piano muito cedo, quando era apenas uma criança que começava a andar. Estudou depois etnomusicologia na Tokyo National University of Fine Arts and Music, com um interesse especial na música tradicional japonesa da região de Okinawa, bem como nas tradições musicais indiana e africana. Também descrevia o músico clássico Claude Debussy como o seu herói.
Tornou-se um compositor e músico de teclas, electrónico, e ficou conhecido pelas bandas-sonoras de filmes como Feliz Natal Sr. Lawrence, de Nagisa Oshima ou do Último Imperador de Bernard Bertolucci, que lhe deu um Óscar.
Em 2014, foi-lhe diagnosticado cancro da garganta, que foi curado após anos de tratamento. Mas em Janeiro de 2021 disse ter sido diagnosticado com um cancro rectal um ano antes. Em Junho deste ano, escreveu num ensaio que o cancro se tinha espalhado, apesar de várias cirurgias, e que estava agora na muito avançada fase quatro.
"Acabei de fazer 70 anos, mas quantas mais vezes verei a lua cheia?", escreveu. "Mas mesmo pensando nisso, como me foi dado o dom da vida só rezo que possa fazer música até aos meus últimos momentos, tal como os meus amados Bach e Debussy."