A região de Lisboa foi vítima de um comboio de tempestades esta quinta-feira. O que é que isso quer dizer? Trata-se de um fenómeno normal no Inverno que se traduz numa sucessão de depressões que pode atingir a costa atlântica da Europa e, claro, o território de Portugal. "Os sistemas atmosféricos deslocam-se de Oeste para Este. O que está a acontecer é que temos uma série de depressões que trazem esta chuva", explica a geógrafa Maria José Roxo.
As depressões vão alternando com o anticiclone dos Açores, de que tanto se fala e que nos traz o bom tempo. Este anticiclone de bloqueio localizado no Atlântico a oeste de Portugal continental pode quebrar e afastar-se de Portugal deixando uma "via aberta" para a chegada de mais depressões ou frentes atlânticas. Maria José Roxo adianta que este sistema de depressões, o tal "comboio de tempestades", é um fenómeno normal no Inverno, mas neste caso da noite passada em Lisboa o factor anormal foi, de facto, a intensidade.
Quando a Oscilação do Atlântico Norte (NAO), processo natural responsável pelo tempo na Europa, é positiva, Portugal é atingido por este comboio de tempestades, uma sucessão de depressões que traz chuva intensa. Os modelos de análise e previsão meteorológica permitem prever este tipo de fenómenos, mas com algumas limitações.
"Quando analisamos os modelos e vemos a evolução dos sistemas atmosféricos temos um conhecimento que ainda assim é restrito. É óbvio que não se consegue prever se vai cair 50, 60 ou 70 mm. Só se consegue prever que vai ser grave. Com os modelos, consigo dizer que vai chover com forte intensidade mas não consigo dizer quanto nem onde, de forma precisa", explica a professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) avisou esta quarta-feira que uma depressão nos Açores ia causar a ocorrência de chuva forte em Portugal continental até final da tarde de sexta-feira. Ou seja, o estado do tempo em Portugal continental vai continuar a ser condicionado por esta depressão centrada na região dos Açores e que se desloca para leste, "transportando uma massa de ar húmido e instável".
A Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) também já tinha emitido na terça-feira um aviso à população com previsão de chuva, vento forte e agitação marítima no centro e sul. Em comunicado, além de alertar para a previsão de chuva, por vezes forte, mais intensa e frequente na região sul, a ANEPC avisou que existiam condições favoráveis à conjugação "severa com trovoada e fenómenos extremos nas regiões centro e sul".
Face às previsões, a ANEPC admitia ainda a ocorrência de inundações em zonas urbanas, causadas por acumulação de águas pluviais devido à obstrução dos sistemas de escoamento, assim como cheias, potenciadas pelo transbordo do leito de alguns cursos de água, rios e ribeiras.