A decisão da Indonésia de proibir a coabitação e o sexo fora do casamento pode prejudicar a indústria do turismo em Bali, avisaram representantes de agências de viagens e empresas. E isto justamente quando o turismo começava a recuperar após a pandemia.
Numa revisão do seu Código Penal, considerada pelos críticos como um retrocesso para a terceira maior democracia do mundo, noticia a Reuters, a Indonésia introduziu esta semana uma série de leis, incluindo a proibição de insultar as instituições estatais e a divulgação de pontos de vista contrários à ideologia do país, para além de cláusulas de moralidade.
Viajantes e empresas advertiram que as novas leis poderiam dissuadir os estrangeiros de visitar ou investir na Indonésia.
"Se eu não pudesse ficar com a minha namorada num hotel, juntos, pensaria duas vezes", comentou à Reuters Wu Bingnan, um turista de 21 anos da China que estava de visita a Bali.
As alterações ao Código Penal só entrarão em vigor dentro de três anos", mas Maulana Yusran, vice-chefe do conselho da indústria turística da Indonésia, opina, também à Reuters, que as novas regras são "totalmente contraproducentes". Exactamente a mesma terminologia é utilizada por Putu Winastra, presidente do maior grupo de empresas turísticas do país, a Associação das Agências de Viagens e Tours da Indonésia (ASITA), à CNN: "Do nosso ponto de vista como agentes da indústria do turismo, esta lei será muito contraproducente para a indústria do turismo em Bali – particularmente os capítulos sobre sexo e casamento", assinala.
Outros agentes da indústria procuraram acalmar os receios de uma repressão moral na Indonésia, uma nação de 17 mil ilhas onde os cidadãos são predominantemente muçulmanos moderados. "O regulamento apenas torna mais claro o que temos actualmente, que apenas certas pessoas têm o direito de apresentar uma queixa. (Como operadores hoteleiros) não estamos preocupados e não "sentimos que isso irá afectar o nosso negócio", diz, por seu lado, Arie Ermawati, gerente do Hotel Oberoi, em Bali, à Reuters.
Actualmente, a Indonésia proíbe o adultério mas não o sexo antes do casamento. O novo Código Penal diz que tal actividade só pode ser denunciada por partes limitadas, tais como o cônjuge, pais ou filho. Porém, sendo aplicáveis tanto a cidadãos indonésios como a residentes estrangeiros ou a visitantes (com penas de um ano de prisão), além de marcarem a "reputação global" do país, como refere a CNN, criam novos dilemas. Além de grandes batalhas entre as cláusulas de "moralidade" e o negócio turístico.
O país tem três anos para debater a questão e esclarecer a aplicação destas novas leis. "Será que os casais de turistas (em visita a Bali) têm de provar que são casados? Devemos perguntar-lhes se são ou não casados?", questiona-se o líder da ASITA. "Agora os turistas estrangeiros vão pensar duas vezes em viajar para Bali porque podem ser presos por violarem as leis", acrescenta Putu Winastra. "Perguntar aos casais se são ou não casados é uma área muito privada e será uma tarefa impossível de fazer", refere por seu lado Ida Bagus Purwa Sidemen, director-executivo da Associação Indonésia de Hotéis e Restaurantes.
Entre os cidadãos e visitantes cuja vida quotidiana poderá ser mais perturbada e complicada com as novas leis contam-se as mulheres e os membros da comunidade gay (na Indonésia é ilegal o casamento entre pessoas do mesmo sexo).
Espera-se que as chegadas de estrangeiros a Bali atinjam níveis pré-pandémicos de seis milhões até 2025, segundo dados divulgados anteriormente pela associação de turismo indonésia. Isto depois de nos anos da pandemia a ilha ter quase encerrado por completo ao turismo, chegando, em 2021, a receber oficialmente apenas cinquenta entradas. O regresso à quase normalidade ocorreu apenas em Março. A população de Bali é predominantemente hindu e o ambiente mais liberal atrai os turistas ocidentais, indica a CNN.
"O que nos vai acontecer agora se as novas leis assustarem os turistas?", pergunta Purwa Sidemen: "Será que vamos voltar a viver como durante a pandemia?"