Musicbox: celebrar 16 anos em quatro noites
O espaço do Cais do Sodré está em festa desta quarta-feira a sábado, com nomes como Hetta, Leexo, Cookie Jane, Sopa de Pedra, Capitão Fausto, Noite Príncipe, Extrazen ou IVAN$ITO.
Foi em Dezembro de 2006 que o Musicbox abriu portas pela primeira vez, num Cais do Sodré que não estava nem perto de sonhar no que se viria a transformar. Ao longo destes 16 anos, o espaço de música lisboeta trouxe inúmeros nomes, grandes e pequenos para concertos, DJ sets e outros espectáculos.
Para assinalar a ocasião de fazer quatro vezes quatro anos e atingir uma espécie de maioridade, há quatro dias de festas que arrancam esta quarta-feira e se prolongam até sábado. O cartaz é, como a programação ao longo do ano procura sempre ser, uma mistura de nomes firmados e apostas novas nacionais e internacionais.
Inês Henriques, programadora, diz ao PÚBLICO que, nestes 16 anos em que, por exemplo, nos Estados Unidos se atinge uma espécie de maioridade, o espaço “tem sempre ocupado este papel de ser um primeiro palco e um palco a que muitos artistas regressam”, com um posicionamento de fazerem “efectivamente parte da cidade”, inseridos num “sítio com características cada vez mais específicas”, que trazem “desafios que vão acrescendo” graças ao processo de “turistificação” da zona.
“Mas temos sempre este compromisso com aquilo que são programações da música que é nova, de certa forma, e de ter aqui um espaço de crescimento para os artistas seja qual for a fase em que se encontrem”, continua, “[e de] um constante retorno àquilo que são as comunidades locais e as que se relacionam com a nossa programação de música de uma forma muito específica.”
Tudo arranca nesta véspera de feriado, com uma noite de entrada livre a partir das 21h. Inês conta ao PÚBLICO que é algo que têm feito em anos anteriores: “É com bandas que nunca actuaram no Musicbox, um bocado de aproximação daquilo que nos estava a chamar a atenção.” Neste caso, a noite arranca com os gritos e o barulho do quarteto Hetta, do Montijo. “Esta componente screamo e mathcore, de uma coisa muito boa e muito bem feita deste universo”, comenta.
Segue-se Leexo, que na banda “As Docinhas é mais rock, jazz e blues e aqui vai pegar muito mais pelo reggaetón e a PC Music”, Iolanda, que já actuou no Musicbox, mas numa primeira parte e não neste formato, “um dos grandes nomes da pop portuguesa que brotaram recentemente”, bem como Cookie Jane, “a rainha do drill”, referindo o subgénero de rap nascido em Chicago. “Fazemos aqui um mapeamento que vai do Montijo [no caso de Cookie Jane] a Viana do Castelo [Leexo], onde cabe muita coisa, mesmo”, continua.
Pedro Azevedo, também programador e director artístico do Musicbox, explica que estas festas “acabam por reflectir muito o que é a programação ao longo do ano”. Esta quarta-feira pode vir a ser um dia de descoberta: “Independentemente de acreditarmos ou não que vão ser the next big thing, são artistas até desconhecidos dentro das suas localidades, já que não são todos de Lisboa, e são ainda menos conhecidos em Lisboa.”
Na quinta-feira há um só concerto, do grupo canto polifónico a cappella do Porto Sopa de Pedra. “É muito raro tocarem em Lisboa e faz todo o sentido estarem no aniversário”, diz Pedro. A sexta-feira é a noite de Capitão Fausto, que praticamente começaram no Musicbox. “Parecia-me mais do que óbvio que estivessem no nosso aniversário. E, se não estivessem, lá iriam comparecer na noite de Natal... portanto é uma garantia e também reforça muito o papel do Musicbox, e os Capitão Fausto são uma banda muito grande que anualmente acaba por passar aqui, porque está próxima do público e de nós.”
No último dia, os concertos são de IVAN$ITO, o ecléctico filho de chilenos que cresceu na Dinamarca, foi para o Chile e voltou para a Europa, “um dos novos nomes da cena de reggaetón da Escandinávia”, revela Inês, bem como do tirsense Extrazen, que faz trap, rap e r&b, “e vem apresentar o disco a Lisboa”.
A seguir aos concertos, a partir das 00h30, o espaço vira-se, como é habitual, para o modo clubbing. Inês fala do primeiro dia: “Olhamos para os sons da global music, com o regresso dos [brasileiros] Deekapz a Portugal, a Trafulha, [bem como] o colectivo [multinacional londrino] Love in the Endz.” Depois disso, há uma noite mais virada “para house e techno”, com Diana Oliveira e Meibi. Segue-se, no terceiro dia, o duo francês de Ko Shin Moon, que se estreia no espaço e vai beber influência à música tradicional de sítios como o Norte de África, a Grécia, a Índia, entre muitos outros, e a DJ lisboeta nascida na Bélgica Chima Hiro. Por fim, à quarta noite de festa, há uma Noite Príncipe, tradição do Musicbox.