Rússia culpa Ucrânia por ataque a duas bases aéreas e lança nova vaga de mísseis

Com as temperaturas a descerem continuamente abaixo de zero, os ucranianos voltam a enfrentar cortes generalizados de electricidade. Na Rússia, explosões em bases aéreas fizeram três mortos.

Foto
SPUTNIK/Reuters

Duas bases aéreas militares russas foram atingidas às primeiras horas de segunda-feira por explosões que provocaram pelo menos três mortos, vários feridos e danos em dois bombardeiros.

Um dos rebentamentos verificou-se na base de Engels, região de Saratov, onde estavam estacionadas aeronaves que, de acordo com responsáveis ucranianos, estariam a preparar novos bombardeamentos ao país.

De acordo com meios de comunicação russos citados pela versão inglesa do Meduza, na origem dessa explosão esteve a queda de um drone. Um vídeo captado por uma câmara de segurança parece mostrar o momento do impacto, vendo-se um enorme clarão a ofuscar a imagem. Ainda de acordo com as mesmas fontes, a explosão provocou dois feridos.

O outro rebentamento deu-se na base de Diagilevo, na região de Riazan, e foi noticiado inicialmente pela agência de notícias estatal Ria Novosti, que disse tratar-se de uma explosão de um camião de combustível. Foi aqui que se registaram três mortos e cinco feridos.

Ambas as instalações militares localizam-se a umas boas centenas de quilómetros da fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, que não reivindicou a responsabilidade por nenhuma das explosões, embora um dos principais assessores de Volodymyr Zelensky o tenha insinuado. “Se qualquer coisa é lançada no espaço aéreo de outros países, mais cedo ou mais tarde objectos voadores desconhecidos voltam ao ponto de partida”, escreveu Mikhailo Podoliak no Twitter.

Já ao fim do dia, o Ministério russo da Defesa acusou Kiev de ter lançado drones contra as duas bases e confirmou as informações iniciais sobre as consequências das explosões. “As defesas aéreas interceptaram esses drones. Em resultado da queda e explosão de fragmentos dos drones ucranianos nas bases aéreas russas houve danos ligeiros na fuselagem de dois aviões”, disse o ministério em comunicado.

A Ucrânia tem oscilado entre o silêncio e as insinuações irónicas sempre que ocorrem explosões em território russo ou na Crimeia, anexada pela Rússia em 2014. Em algumas delas, como no caso da ponte Kerch, Kiev conta com paramilitares ou apoiantes locais.

Mas a explosão desta segunda-feira salta à vista porque não se conhece publicamente que os ucranianos tenham em sua posse uma arma que consiga atingir alvos tão longe da fronteira. Os mísseis fornecidos pelos países ocidentais, nomeadamente os dos Estados Unidos, têm um alcance inferior – como, aliás, Joe Biden fez questão de garantir. Os media ucranianos noticiaram este fim-de-semana que a empresa armamentista Ukroboronprom concluiu com sucesso os testes de um novo drone com alcance de 1000 quilómetros.

Putin conduz na Crimeia

Os ataques desta segunda irritaram novamente alguns comentadores militares russos, que aproveitaram para criticar as chefias das Forças Armadas e pedir novos ataques ao país vizinho.

E foi precisamente isso que aconteceu algumas horas depois, como confirmou o próprio Ministério da Defesa da Rússia. Apesar dos “danos ligeiros” nos bombardeiros de Engels, “um ataque maciço efectuado com a ajuda de armas de alta precisão” visou instalações militares ucranianas e infra-estruturas energéticas, disse em comunicado.

Foi a oitava vaga de bombardeamentos russos em oito semanas. A Rússia diz ter atingido com sucesso os 17 alvos identificados, enquanto o Exército ucraniano afirmou ter conseguido abater 60 dos 70 mísseis russos antes de estes chegarem ao chão.

Os alertas de ataque soaram um pouco por todo o país, de Odessa a Mikolaiv, de Sumi a Kiev. Na capital, a população voltou a refugiar-se nas estações de metro. “É inacreditável que isto aconteça quase diariamente na Ucrânia”, escreveu no Twitter o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, que se encontrava em Kiev precisamente no momento do ataque e teve de se recolher num abrigo. “Isto não se pode tornar no novo normal”, acrescentou.

Os bombardeamentos voltaram a causar problemas no fornecimento de energia em boa parte do país, num momento em que as temperaturas oscilam entre os -5º C (em Kiev) e os -10º C (a Leste). A companhia eléctrica Ukrenergo anunciou “cortes de emergência” em “todas as regiões da Ucrânia” para “manter o equilíbrio entre a produção e o consumo de electricidade”.

Enquanto isso, o Presidente russo visitava a Crimeia, onde percorreu de carro um troço da ponte Kerch, danificada por uma explosão em Outubro. Foi a primeira vez que Vladimir Putin visitou a península desde o início da guerra e também a primeira em que se deslocou a um sítio directamente afectado pelo conflito. No vídeo divulgado pela Ria Novosti, vê-se Putin ao volante de um Mercedes enquanto o passageiro, o vice-primeiro-ministro, Marat Khousnullin, “informa o chefe de Estado sobre a progressão dos trabalhos de reparação”, disse o Kremlin em comunicado.

Sugerir correcção
Ler 18 comentários